quarta-feira, 9 de maio de 2018

Reserva Nacional Coyhaique (Chile) - fev/2018

Coyhaique vista do Cerro Cinchao


A Reserva Nacional Coyhaique foi criada em 1948 e é administrada pela Conaf, órgão florestal oficial do Chile. Situa-se na Patagônia chilena, mais exatamente na região de Aysén, de número XI (as regiões no Chile têm nome e número romano).

O setor da reserva aberto a visitação possui basicamente dois grandes circuitos de trilhas que iniciam e findam na portaria e se sobrepõem em parte. O circuito mais curto passa por todas as lagunas e percorre somente as partes mais baixas, já o circuito mais longo sobe às partes mais altas e tem seu ponto máximo no Cerro Cinchao, de 1359m de altitude.

Há também um circuito ainda menor por uma estrada de rípio que pode ser percorrido de carro ou bicicleta. Para completar, há trilhas transversais que conectam em diversos pontos o circuito mais curto e a estrada de rípio e são marcadas no mapa como trilhas para bicicletas.

Eu planejei passar dois dias na reserva (acampando dentro dela) e fazer cada um dos dois circuitos de trilha em um dia. Pensei em caminhar pelo circuito mais curto no primeiro dia e deixar o mais longo para o segundo dia, mas durante o percurso mudei de idéia pois o dia estava ensolarado e perfeito para subir às partes mais altas. A visão seria total. No dia seguinte talvez o dia não estivesse tão bonito, afinal estava na Patagônia e lá o tempo é uma incógnita.

Laguna Verde



04/02/18 - 1º DIA - circuito do Cerro Cinchao

Início e final: portaria da Reserva Nacional Coyhaique
Duração: 7h15
Distância: 17,9km
Maior altitude: 1359m
Menor altitude: 386m
Dificuldade: média (muita subida e muita descida)

Saí do Hostal Natti e passei pela Plaza de Armas de Coyhaique às 9h43. Tomei a Rua Condell no sentido nordeste e ao final dela a Avenida General Baquedano à esquerda, sentido norte. Na saída da cidade ela se transforma na rodovia 240 e há um regimento do exército à esquerda com um tanque de guerra exposto na calçada. A estrada desce e encontra com a Carretera Austral (Rota 7) num trevo, onde vou para a direita e cruzo a ponte sobre o Rio Coyhaique. Ali diversos mochileiros esperam por carona para o norte. Sigo à direita numa bifurcação e encontro a placa da Reserva Nacional Coyhaique às 10h14, uns 370m depois da ponte. A seta aponta para uma estrada de rípio que sobe à direita. Uma outra placa com horários e preços avisa "camping no habilitado"... só faltava essa! A reserva está a 1500m segundo outra placa (no meu gps deu 1,6km) e é só subida até lá. Nessa estradinha de rípio há muitas casas, algumas muito bonitas, e há até um aviso de que há câmeras de segurança, talvez para ninguém querer acampar clandestinamente por ali. 

Cheguei enfim à portaria da reserva às 10h38 e os atenciosos guardaparques confirmaram o que eu temia... por causa de gente teimosa que insiste em fazer fogueira quando acampa não é mais permitido acampar dentro da reserva. O fogo é um medo constante na Patagônia pois já causou enormes desastres ambientais, como em Torres del Paine em 2005 e 2011. Pelo menos eles permitiram que eu deixasse a mochila cargueira ali na guarderia para resgatá-la no final do dia, no máximo até 18h45. Paguei a entrada de CLP 3000 (R$ 16), peguei o folheto com mapa e informações sobre as trilhas, tirei algumas dúvidas e parti às 11h10 pelo Sendero Los Leñeros, no sentido leste-nordeste. Altitude de 386m.

Cerro Cinchao



No início da trilha as árvores estão identificadas por plaquinhas, mas só no início. A trilha tem pontes, passarelas, corrimãos, escadas, toda a estrutura. Às 11h40 cheguei ao primeiro mirante com vista para a cidade de Coyhaique e os cerros Mackay e Divisadero ao fundo. Fiquei 10min ali e subindo mais 4min cheguei à Casa Bruja, que seria o primeiro local de acampamento (o outro seria a Laguna Verde). Quando vi a estrutura montada ali, com quincho e ótimos banheiros, fiquei mais p da vida com essa gente que faz fogueira em local proibido. Por causa deles não se pode usufruir de tudo isso num lugar tão incrível. O Museu Histórico estava fechado também. A estrada de rípio passa ao lado e algumas pessoas chegam de carro ali.

Sentei numa grande sombra para almoçar e então resolvi que era melhor subir o Cerro Cinchao nesse dia. Voltei a caminhar às 12h36 e a trilha muda de nome para Los Carreros. Subo mais e às 12h58 alcanço o segundo mirante, este já próximo à Laguna Verde. Dele se avista novamente Coyhaique e os cerros Mackay e Divisadero de forma mais panorâmica. A trilha desse mirante até a Laguna Verde toma o rumo norte e está adaptada para cadeirantes, mas tem apenas 330m (pode-se chegar à Laguna Verde pela estrada de rípio da reserva). 

Há uma trilha que contorna a Laguna Verde mas com a decisão de subir o Cerro Cinchao deixei-a para o dia seguinte. Parti direto para o Sendero Los Troperos, ainda na direção norte, deixando a Laguna Verde às 13h14. Em apenas 7min surge uma outra trilha à direita, o Sendero Las Piedras, e aí saio do circuito curto das lagunas e começo a subida para o circuito longo do Cerro Cinchao. A subida é puxada e avança em zigue-zague. Os mirantes proporcionam uma visão ainda mais ampla de Coyhaique e dos cerros Mackay e Divisadero. Às 14h03 passo por uma fonte de água e 10min depois saio do bosque de lengas, passando a caminhar por pedras. Às 14h17 a última fonte de água da subida. Reentro no bosque de troncos curvados devido à camada de terra mais rasa e às 14h23 saio do limite das árvores, passando a caminhar pela areia.

Cerro Cinchao



Às 14h27 atinjo o platô e a trilha se encaminha para noroeste, em direção ao Cerro Cinchao, com visão espetacular de 360º. Dia perfeito! Contorno o Cerro Cinchao pela direita (norte) e ao percorrer a sua face oeste resolvi tentar a subida. Havia outras pessoas por ali mas não vi ninguém subindo. Não vi trilha inicialmente mas depois encontrei pegadas. E a subida foi muito fácil! Às 15h23 estava no cume, de altitude 1359m. Na mata logo abaixo se destacam as lagunas Verde e Los Mallines. Fiquei até 15h41 e iniciei a longa descida de volta à portaria. 

Desci pela trilha de areia e pedras e às 16h10 reentrei no bosque. Inicialmente as lengas são baixas e curvas pelo solo raso. Há alguns mirantes nessa descida. Às 17h07 o Sendero Las Piedras termina no Sendero Los Tejueleros, onde as placas indicam Laguna Vênus à esquerda e Coyhaique à direita. Fui para a direita, passei por uma fonte de água (a primeira desde a subida do Sendero Las Piedras) e cheguei à Laguna Los Sapos às 17h37. Ali a trilha muda de nome para Sendero El Chucao (nome de um pássaro) e toma o rumo sul de vez. Há uma porteira e um final de estrada do lado esquerdo mas a trilha continua mesmo à direita. A descida continua, passo por mais uma fonte de água e às 18h26 alcanço a portaria do parque a tempo de resgatar a mochila.

Descansei um pouco e iniciei a descida pela estrada às 19h09. Às 19h33 estava de volta ao asfalto da Carretera Austral (Rota 7), fui para a direita apenas 40m e entrei no Camping Alborada, onde acampei num espaçoso gramado.

Altitude de 230m.

Laguna Vênus



05/02/18 - 2º DIA - circuito das lagunas

Início e final: portaria da Reserva Nacional Coyhaique
Duração: 7h25
Distância: 15,1km (com as explorações extras que fiz)
Maior altitude: 754m
Menor altitude: 386m
Dificuldade: fácil

Desmontei a barraca e deixei a mochila cargueira com a dona do camping para pegar mais tarde. Saí às 8h14 só com a mochila de ataque com roupa de frio, roupa de chuva, lanche e água. Subi toda a estrada de novo até a portaria da reserva, aonde cheguei às 8h38. Os guardaparques eram outros. Paguei de novo a entrada de CLP 3000 (R$ 16) e iniciei a caminhada às 8h47 no sentido contrário ao do dia anterior, pelo Sendero El Chucao. Passei pelo primeiro ponto de água às 8h58 e cheguei à Laguna Los Sapos às 9h53. A trilha muda de nome para Sendero Los Tejueleros e passei por outra fonte de água. Às 10h34 aparece o final do Sendero Las Piedras e daí em diante o caminho era novidade para mim.

Visitei a Laguna Vênus às 10h42 e a trilha muda de nome para Los Carboneros. Às 11h07, num cruzamento de trilhas vou em frente. Às 11h20 subo a plataforma de madeira do Mirador Los Mallines para fotos da lagoa de mesmo nome, pequena e distante. Apenas 60m adiante alcanço uma bifurcação: em frente a trilha continua com o nome de Los Troperos, para a direita é um final de estradinha, marcado no mapa como trilha para bicicleta. Há uma fonte de água aí. Para esticar um pouco mais meu percurso vou para a direita e acabo me aproximando mais da Laguna Los Mallines. Essa estradinha encontra a estrada-circuito para carros e sigo para a direita. Mais um ponto de água. Com uns 630m nessa estrada principal entro noutra estradinha marcada como trilha de bicicleta à direita e retorno ao cruzamento por que passei às 11h07. Sigo em frente nesse cruzamento para conhecer outras trilhas. Pego a direita na bifurcação e vou em frente no cruzamento seguinte. Logo a trilha dá uma guinada para a direita, vai se tornando paralela ao Sendero Los Carboneros e acaba encontrando-o naquela confluência com a trilha Los Troperos (onde há água e um final de estradinha). 

Depois dessa exploração toda prossigo pela trilha Los Troperos às 13h24 e passo pela entrada da trilha Las Piedras, local conhecido no dia anterior. Chego à Laguna Verde às 13h53 e percorro o Sendero Laguna Verde, que dá uma volta completa na lagoa. Depois de um lanche, às 14h55,  tomo a trilha adaptada a deficientes até o mirante e retorno à portaria descendo pelas trilhas Los Carreros e Los Leñeros, no sentido oposto ao do dia anterior. No caminho ainda saboreei cerejas diretamente do pé. Às 16h13 estou na portaria e logo pego a estradinha para descer ao camping. No caminho um carro para e me oferece carona. Poderia ter aproveitado essa gentileza até a cidade mas precisava pegar a mochila. Por sorte a dona do camping também estava saindo de carro e me deu carona até o centro de Coyhaique.

Laguna Verde



Informações adicionais:

A entrada na reserva custa CLP 3000 (R$ 16). O camping está proibido há mais de um ano por conta dos campistas que não respeitam as regras e ainda insistem em fazer fogueira quando acampam. Por causa dessas pessoas ninguém mais pode usufruir da boa estrutura de camping que a reserva possui.

O Camping Alborada é o mais próximo da reserva (1,6km de distância e 156m de desnível) e custa CLP 4500 (R$ 24) por pessoa por noite com banho quente.

O grau de dificuldade que coloco nos relatos é uma avaliação pessoal e considera que o trilheiro esteja acostumado a caminhadas de vários dias com mochila cargueira. Para um iniciante considere todas as trilhas como difíceis. Para um iniciante que não esteja em boa forma física é melhor procurar trilhas fáceis de um dia para ganhar experiência e condicionamento.

Rafael Santiago
fevereiro/2018

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