quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Pedra da Estância (Itajubá-MG) - ago/14

Imagem
Pedra da Estância

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/PedraDaEstanciaItajubaMGAgo14.

Segundo o site da prefeitura de Itajubá, a Pedra da Estância tem 1300m de altitude e seria a terceira montanha mais alta do município, atrás da Pedra de Santa Rita (1900m) e da Pedra Aguda (1547m). Porém as medições que fiz com o meu Garmin deram um resultado um pouco diferente, sendo 1876m para a Pedra de Santa Rita, 1760m para a Torre do Chico (cume do Cantagalo), 1586m para a Pedra Aguda e 1642m para a Pedra da Estância, o que a mantém em terceiro lugar porém acima da Pedra Aguda. Polêmicas à parte (já que a medição foi feita com um gps portátil), meu objetivo era conhecer as montanhas mais altas do município. Tendo já subido as outras três, parti desta vez para a Pedra da Estância. O relato da Pedra Aguda, feita em forma de travessia, está em trekkingnamontanha.blogspot.com.br/2014/02/travessia-da-serra-da-pedra-aguda.html.

Peguei o ônibus da Pássaro Marron das 6h45 em São Paulo e desci na entrada do bairro da Estância às 10h44, no km 165 da rodovia BR-459. Esse local fica 6,6km antes do centro de Itajubá e 4,2km depois do trevo de Venceslau Brás e dali já é possível ver a imponente Pedra da Estância se elevando ao fundo. Altitude de 867m. Atravessei a rodovia e peguei a estrada de terra em direção ao bairro e à pedra. Em 20 minutos passei pela igreja do bairro. Cerca de 270m após a porteira da Cachoeira da Estância (famoso balneário local a 2,5km da rodovia), encontrei uma porteira com cadeado à esquerda e a pulei, exatamente onde a estrada faz uma curva de 180º para a direita. Subi pelo curto calçamento de blocos sextavados e continuei pela estradinha de terra, subindo à direita na bifurcação que surgiu. Cruzei a porteira seguinte e continuei subindo.

Às 11h58 peguei água numa mangueira que abastecia uma caixa-d'água e em seguida cruzei uma tronqueira. Ao final de uma ladeira em ziguezague encontrei um homem junto a um curral e confirmei o caminho que deveria seguir. Ele me orientou quanto ao melhor percurso mas duvidou que eu conseguisse chegar à pedra pois não encontraria o caminho certo lá no alto. Segui pela estradinha na direção de uma outra caixa-d'água e desci um pouco até uma porteira de arame, com um riachinho à direita e uma obra de calçamento da ladeira a seguir. Às 12h27 a trilha parece terminar num pasto com vacas e um pequeno telhadinho, mas procurando à direita do telhadinho reencontrei-a exatamente na direção desejada, ou seja, apontando para algumas araucárias e uma árvore de folhas vermelhas mais no alto.

Imagem
Serra da Água Limpa

Ultrapassada essa árvore segui pelo capim baixo na direção de outras araucárias e entrei na mata. Depois de 180m na mata, fui à direita na bifurcação mas depois descobri que tanto faz pois ambos os ramos alcançam um pequeno pasto mais acima que deve ser atravessado para reentrar na mata. Ali a subida se acentua e se faz em vários ziguezagues até atingir às 13h08 uma porteira com um aceiro do outro lado, o qual vem subindo da esquerda para a direita. Altitude de 1516m. Tomei o aceiro à direita e a subida foi forte por 11 minutos até alcançar o topo e imediatamente começar a descer. Nesse ponto mais alto notei uma trilha meio fechada à direita e entrei. Não me pareceu ser o caminho certo pois desceu bastante e estava fechada e pouco pisada, mas insisti.

Na parte mais baixa dessa trilha surgiu uma cerca à minha esquerda e a cruzei por cima de um tronco caído. Voltei a subir forte bem rente à cerca (à minha direita agora) mas ainda com mato meio fechado. No topo abandonei a cerca e quebrei 90º à direita, seguindo o caminho um pouco mais aberto. Em 30m alcancei as primeiras lajes da Pedra da Estância, às 13h32, na altitude de 1642m. Ali tinha visão apenas parcial da paisagem. Peguei algumas trilhas curtas pela vegetação e passei para outras lajes e mirantes até que encontrei a laje maior, com visão completa. Isso significa dizer que era possível avistar desde o Pico do Ataque à direita (sudeste) até o Observatório de Brasópolis à esquerda (oeste), passando pelo Pico dos Marins, Serra da Água Limpa, Serra da Pedra Aguda bem de frente e a Pedra Vermelha. No quadrante norte ainda se avista o Pedrão e a Serra da Pedra Branca em Pedralva e ainda o Pico da Bandeira de Maria da Fé. Uma paisagem arrasadora!

Iniciei o retorno pelo mesmo caminho às 15h15, passei pela Cachoeira da Estância às 16h58 e cheguei à rodovia às 17h29. Dali consegui uma carona para o centro de Itajubá.

Distância percorrida desde a rodovia BR-459 até o cume da Pedra da Estância (só ida): 7km
Desnível: 775m

Imagem
Vista do cume da Pedra da Estância

Informações adicionais:

A linha São Paulo-Itajubá pela rodovia BR-459 é feita pela empresa Pássaro Marron (www.passaromarron.com.br). Os horários são 6h45, 13h e 18h30, diariamente.

Cartas topográficas:
. Itajubá - http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/mapas/GEBIS%20-%20RJ/SF-23-Y-B-III-3.jpg
. Delfim Moreira - http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/mapas/GEBIS%20-%20RJ/SF-23-Y-B-VI-1.jpg

Rafael Santiago
agosto/2014

Percurso na imagem do Google Earth (clique na imagem para ampliar)

Percurso na carta topográfica do IBGE (clique na imagem para ampliar)

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Travessia Theodoro de Oliveira-Boca do Mato (Nova Friburgo-Cachoeiras de Macacu-RJ) - mai/2014

Imagem

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/TravessiaTheodoroDeOliveiraBocaDoMatoNovaFriburgoCachoeirasDeMacacuRJMai14.

A travessia Theodoro de Oliveira-Boca do Mato liga o bairro Theodoro de Oliveira, de Nova Friburgo, que fica na borda da serra (e faz limite com o município de Cachoeiras de Macacu), com o bairro de Boca do Mato, no pé da serra, já em Cachoeiras. É uma trilha muito fácil e bem marcada, dividida em duas partes. Na parte mais alta da serra percorre o traçado de uma estrada de rodagem desativada e na parte mais baixa o trajeto da antiga linha do Cantagalo da Estrada de Ferro Leopoldina, desativada em 1967 e da qual se pode ver apenas um pedaço de trilho, duas caixas d'água e a estação Pena, além dos restos das estações Pindorama e Agente Maia.

Texto do site Estações Ferroviárias do Brasil: "Entre Boca do Mato e Teodoro de Oliveira era a subida da Serra do Mar. No meio da Mata Atlântica exuberante, um dos mais belos passeios de trem do Brasil subia pelos trilhos do sistema Fell. Beleza roubada em 1967 pelo fechamento da linha" (http://www.estacoesferroviarias.com.br/efl_rj_cantagalo/boca.htm).

Em Cachoeiras de Macacu, peguei o ônibus para Nova Friburgo da empresa 1001 às 8h05 e desci no primeiro ponto depois do posto policial do alto da serra às 8h40. Voltei 200m pela rodovia RJ-116 e iniciei a travessia às 8h52 entrando na rua asfaltada à direita do posto, no km 65. Altitude de 1054m.

Depois de 400m a rua termina numa bifurcação: à direita uma rampa que leva a algumas casas e à esquerda o início da trilha, que ainda conserva o asfalto da antiga rodovia e até um alambrado, tudo sendo engolido pela mata ao redor. A curiosidade dessa primeira parte da travessia é justamente topar no meio da mata em vários momentos com o antigo asfalto, inclusive com as faixas contínuas centrais de ultrapassagem proibida ainda pintadas nele.

Logo no início parei para arrumar a mochila e fui alcançado por três rapazes que vieram descer a serra também, afinal era feriado.

Às 9h27, confirmando a exuberância de águas dessa região serrana fluminense, surge a primeira cachoeira, essa ainda bem discreta. Menos de 10 minutos depois, uma enorme erosão à esquerda arrastou muito da vegetação encosta abaixo. Às 10h08 uma cachoeira mais graciosa e 70m depois cruzamos o Rio Jacutinga, com maior volume de água, mas de passagem fácil. Às 10h23 surge intacta uma mureta de concreto da antiga rodovia. Às 10h40 outra pequena cachoeira e 5 minutos depois a primeira parte da travessia se encerra com a trilha retornando à pista da RJ-116 numa curva bem fechada. Altitude de 965m.

Imagem
Pico da Caledônia

Para a segunda etapa, desci pelo acostamento cerca de 750m e ao final de uma área gramada à direita entrei às 10h57 na trilha em meio ao capim e desci. Altitude de 920m.

Logo a trilha entra na mata novamente e encontro a caixa-d'água (datada de 1919) do posto de Registro da antiga linha férrea. Mas a surpresa veio mesmo às 11h18 ao identificar meio enterrado na lateral da trilha um pedaço grande do trilho. Três minutos depois reencontramos o Rio Jacutinga na primeira ponte da travessia, esta com piso de madeira e laterais de ferro, em ótimo estado e sem risco nenhum ao caminhante. À direita uma bonita cachoeira.

Às 11h30 a segunda ponte, essa bem mais alta e toda de madeira, também em ótimo estado, faz a travessia do Córrego do Tombo. Às 12h07 uma trilha à direita me chama a atenção e, ao explorá-la, descubro um belo túnel em forma de arco de pedra sobre o qual passei (e todos passam) sem se dar conta. A nota negativa aqui foi ter encontrado os restos de um piquenique recente bem nessa curta trilha, mas a limpeza foi feita e os restos dos porcalhões foram para o lixo em Cachoeiras de Macacu.

Às 12h35 uma trilha bem marcada descendo à esquerda chama a nossa atenção (nesse momento estava caminhando com os três garotos). Descemos para saber onde ela iria levar, tomamos a esquerda na bifurcação e chegamos à lateral de uma casa meio isolada, sendo delatados pelos cachorros. Fomos bem recebidos pelo caseiro/vigia do local, que nos mostrou a pequena represa do Rio Macacu, que segundo ele fornece água à cidade. Os rapazes aproveitaram a permissão para banho nos poços abaixo da captação da represa.

Às 13h14 estávamos de volta à trilha principal e em três minutos ela se abre num caminho largo gramado exatamente junto à antiga estação ferroviária de Pena com a inscrição RFFSA - EFL (Estrada de Ferro Leopoldina). Próximo dali uma placa nos lembra que estamos dentro dos limites do Parque Estadual dos Três Picos. Mais 270m cruzamos uma porteira e o caminho gramado vira uma estrada precária entre sítios.

Percorri esse trecho final tedioso de estrada mais rapidamente passando pelas ruínas do antigo posto de Pindorama à esquerda e pela pequena estação de Agente Maia à direita, ambas integrantes da Estrada de Ferro Leopoldina, e às 14h25 atingi o asfalto da RJ-116 junto a um bambuzal e a 100m do ponto final do ônibus Boca do Mato. Altitude de 287m.

Extensão da travessia: 13,8km (descontado o desvio ao Rio Macacu)
Desnível da travessia: 767m

Imagem
Antiga estação ferroviária de Pena

Informações adicionais:

Para chegar ao bairro Theodoro de Oliveira a partir de Cachoeiras de Macacu, pegue o ônibus da 1001 ou a van para Nova Friburgo e peça para saltar no ponto mais próximo do posto da polícia rodoviária do alto da serra.

A passagem Cachoeiras-Friburgo custa R$8,85 e os ônibus partem a cada 40 ou 50min de seg a sex, cada 50min no sáb e cada 1h a 1h30 no dom. Mas é bom verificar no guichê da 1001 pois eles costumam cancelar horários sem aviso prévio, o que causa revolta nos usuários.

Já se você vier de Nova Friburgo é só descer no ponto final do ônibus 405-Theodoro, justamente no posto da polícia rodoviária.

A kombi-lotação sai do bairro Boca do Mato para Cachoeiras de Macacu a cada 15 minutos diariamente, inclusive aos domingos. O ônibus sai a cada 1 hora.

Mais informações sobre as estações ferroviárias e postos da Estrada de Ferro Leopoldina podem ser obtidas no site Estações Ferroviárias do Brasil:
Registro: http://www.estacoesferroviarias.com.br/efl_rj_cantagalo/registro.htm
Pena: http://www.estacoesferroviarias.com.br/efl_rj_cantagalo/pena.htm
Pindorama: http://www.estacoesferroviarias.com.br/efl_rj_cantagalo/pindorama.htm
Agente Maia: http://www.estacoesferroviarias.com.br/efl_rj_cantagalo/agentemaia.htm.

Sempre peço para não deixar lixo nas trilhas. Se possível faça como eu, recolha todo o lixo que encontrar, descartando em local adequado na cidade, onde há coleta regular.

Carta topográfica de Nova Friburgo: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/mapas/GEBIS%20-%20RJ/SF-23-Z-B-II-4.jpg

Rafael Santiago
maio/2014
Percurso da travessia na carta topográfica

Percurso da travessia na imagem do Google Earth

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Travessia Lapinha-Fechados (Serra do Cipó-MG) - mai/2014

Essa é a segunda parte da travessia Cardeal Mota-Lapinha-Fechados. A primeira parte está em http://trekkingnamontanha.blogspot.com.br/2014/06/travessia-cardeal-mota-lapinha-serra-do.html.

Imagem

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/TravessiaLapinhaFechadosSerraDoCipoMGMai14.

O planejamento para essa etapa Lapinha-Fechados incluiu os grandes atrativos da Lapinha, como Cachoeira do Bicame, Poço do Soberbo e outros rios e cachoeiras que eu ainda desconhecia ou não via há muitos anos.

A partir do Poço do Soberbo a caminhada se desenvolve num largo e extenso vale num dos patamares da porção oeste da Serra do Espinhaço. O visual amplo do trecho entre a Lapinha, a Bicame e o Soberbo é, a partir deste, substituída pela visão mais restrita das serras ao redor da calha desse extenso vale.

Essa etapa da travessia foi completada em cinco dias e vale lembrar, como já mencionei no relato da primeira etapa, que eu tinha um cronograma folgado, com tempo para explorar trilhas e caminhos para onde a minha curiosidade me levasse, além das inúmeras pausas para fotos e contemplação, afinal estava na Serra do Cipó.

1º DIA - DA LAPINHA À BICAME

O curto intervalo entre as duas travessias foi um farto almoço de comida caseira no restaurante da Dona Lina, na Lapinha. Devidamente alimentado para o que viria pela frente, coloquei a mochila nas costas e tirei uma foto da Capela de São Sebastião exatamente às 12h40, marcando assim o início da segunda etapa da longa travessia. Altitude de 1103m.

Tomei a estrada de terra batida e extremamente poeirenta que leva a Santana do Riacho e fui admirando os contornos da Serra do Breu à minha direita, com o Pico da Lapinha como ponto mais alto visível (lembrando que o ponto mais alto dessa serra é o Pico do Breu, não visível dessa estrada). Após 3,3km, no chamado cotovelo, segui pela estrada mais estreita que surgiu à direita. O cotovelo é uma curva muito fechada e ascendente à esquerda na estrada, a qual desce depois para Santana do Riacho. Mas o meu caminho era à direita, continuando para o norte. Em 900m ignorei uma estradinha que sai à direita e às 14h alcancei um largo, onde cruzei a primeira porteira. Em 7 minutos ultrapassei outra porteira, esta com uma grande mangueira ao lado, desci um pouco e na curva à esquerda identifiquei a trilha larga que sobe à esquerda e leva diretamente ao Poço do Soberbo, mas meu roteiro passaria na Bicame primeiro para depois descer ao Soberbo.

A partir daqui a estradinha começa a ficar ruim e os carros comuns já deveriam ter sido deixados em algum ponto lá atrás, acho que no largo junto à primeira porteira. Após um trecho plano veio a primeira subida mais forte, onde me mantive na principal (esquerda numa bifurcação), passei por profundas erosões à esquerda e topei com a porteira da Fazenda Cachoeira às 14h39 (placa de proibido acampar). Ali cumprimentei dois homens que faziam uma pausa do trabalho numa minguada sombra, sem saber que seriam as últimas pessoas que veria nos próximos quatro dias! A partir dali o horizonte se abre à esquerda também e passo a ter uma visão mais ampla, com a estradinha rasgando uma crista e ficando cada vez mais precária (somente para 4x4).

Após uma grande curva em ferradura para a esquerda, parei às 15h24 na primeira sombra que apareceu pois o sol fritava. Foi aí que notei a infestação que havia sofrido dos micuins, com dezenas deles grudados ao meu corpo. Felizmente a maioria saiu facilmente pois devia ser bem recente o ataque, provavelmente no vale do Mata-Capim pela manhã. Às 15h55, com a minha água já quente e quase no fim, prossegui. Importante dizer que não encontrei nenhum ponto de água até ali. E só fui encontrar água mais confiável para consumo na Cachoeira do Bicame, ao fim do dia.

Imagem
Serra do Breu

Subi pela estrada num ziguezague e às 16h06 topei com a porteira das RPPNs Ermo das Gerais e Brumas do Espinhaço, mas sem nenhuma guarita ou casa ao lado. Porém subindo um pouco mais já avisto duas casas ao lado da estrada, e bem à frente no horizonte o grande morro que contornarei pela esquerda para alcançar a Bicame, oculta num vale mais profundo. Desci até as casas, que estavam desertas, mas fui denunciado por um cachorro. Cruzei uma porteira e uma ponte de pedra mas não peguei da água. Apenas 270m após a ponte, uma placa "Bicame" manda abandonar a estrada e entrar na trilha à esquerda, que se dirige ao grande morro citado. Ao contorná-lo pela esquerda e atingir um ponto mais alto, olho para trás e tenho a surpreendente visão da Serra do Breu e da Represa da Usina Coronel Américo Teixeira, na Lapinha.

Apertei o passo na descida pois o sol já se aproximava do horizonte e às 17h26 tinha enquadrados em minhas lentes um magnífico pôr-do-sol à esquerda e a majestosa Cachoeira do Bicame à direita, ainda a ser alcançada após uma descida mais íngreme de 750 metros. Às 17h40 já estava diante de seu poço a contemplá-la. Pelo horário era obrigatório que eu dormisse ali, mesmo sem permissão. Altitude de 1162m.

Nesse dia caminhei 14,9km desde a Lapinha.

2º DIA - DA BICAME AO SOBERBO

Nesse dia planejei descer da Bicame ao Poço do Soberbo e começar a travessia para Fechados propriamente dita. Porém algumas explorações adicionais me atrasaram nesse planejamento.

A Cachoeira do Bicame é uma queda do Rio das Pedras na cota dos 1162m. Esse rio nasce na Serra do Breu e a partir da Bicame desce os muitos degraus do Espinhaço no sentido oeste, penetra cânions cada vez mais profundos, despenca em cênicas cachoeiras e recebe do sul as águas do Córrego Fundo nos 921m, já bem próximo do Poço do Soberbo. Ali também recebe as águas do Ribeirão Soberbo, vindas do norte. A partir do Poço do Soberbo, antigo local de garimpo, o Rio das Pedras despenca vertiginosamente pelas paredes da face oeste da serra e alcança o vale do Rio Cipó, onde despeja suas águas escuras.

Depois dessa visão geográfica do Rio das Pedras, o que tinha de concreto à minha frente era um grande poço e um rio muito largo para atravessar. Decidi tentar algum local mais fácil na parte de cima da cachoeira. Deixei então a Cachoeira do Bicame às 8h35 e subi por uma canaleta na parede rochosa à direita da queda que me lançou em alguns minutos à sua parte alta. Ali cruzei o rio facilmente pelas pedras sem tirar as botas graças ao baixo nível das águas (devido ao longo período sem chuvas, importante lembrar). Na outra margem, tomei uma trilha à esquerda para descer novamente ao poço e topei com uma placa da RPPN Vargem do Rio das Pedras (mais uma área particular!?).

Do poço uma trilha nítida (avistada já desde o alto da cachoeira) acompanha o curso do rio por sua margem direita e passa por algumas outras belas cachoeiras e grandes poços cujos nomes desconheço. Nesse trecho é preciso ficar bem atento à trilha certa para chegar ao Soberbo. Essa trilha que acompanha o rio é bem marcada porém desaparece 1,4km depois do poço da Bicame, portanto esse não é o melhor caminho. A trilha certa ficou para trás, mas chegar até o fim dessa trilha paralela ao rio não é nenhum tempo perdido já que a visão do enorme cânion do Rio das Pedras com a baixada a perder de vista no horizonte é a grande recompensa. Mas, indo direto ao ponto certo: 17 minutos depois de deixar o poço da Bicame encontramos uma cachoeira de poço grande e alongado; apenas 50m depois dela uma picada sai à direita no meio do capim alto e sobe. É por aí que entrei às 10h35.

Imagem
Cachoeira do Bicame

Em menos de 5 minutos a trilha deixa o capim alto e continua subindo até alcançar um grande platô ligeiramente abaixo que deve ser cruzado no sentido noroeste, sempre com trilha nítida. No horizonte uma visão mais ampla da baixada, com campos e estradas até onde a vista alcança. Quase no fim do platô, não resisti à paisagem que se abria à minha esquerda e corri à beirada da serra para espiar. A visão é esplêndida! Para a esquerda (sul) o longo vale do Córrego Fundo, à direita (norte) o espetacular vale do Ribeirão Soberbo (me chamando para a travessia a Fechados) e no centro do palco as águas negras do Poço do Soberbo, ao lado do gramado com as casinhas de pedra. Não dá para ter pressa num lugar assim!

Devido ao grande desnível, a trilha descreve um longo cotovelo para norte/noroeste e depois sul/sudeste para descer mais suavemente ao fundo do vale. Mas antes de alcançar o Soberbo eu tinha uma outra exploração a fazer. Uns 100m depois da curva fechada desse cotovelo, às 12h16, saí da trilha e retomei a direção norte (sem trilha) para visitar outras quedas do Ribeirão Soberbo. Desci um pouco entre pedras e vegetação aberta e, apesar da ausência de trilha, a aproximação não foi tão difícil. Uma vez no Ribeirão Soberbo, subi às duas primeiras cachoeiras com grandes poços de água escura. Almocei ali e deixei o local às 13h30, retornando pelo mesmo caminho e retomando a trilha principal às 13h46.

Caminhando na direção sul/sudeste do cotovelo e ainda numa posição elevada, a vista que se tem do vale do Córrego Fundo de frente é realmente bela. Às 14h12 já vejo no paredão à esquerda afunilada uma grande queda do Rio das Pedras, cujas águas atinjo 10 minutos depois, não sem antes fotografar uma canela-de-ema de uns 3 metros de altura.

A descida do Rio das Pedras até o fundo do vale foi bem mais difícil (e até tensa) do que eu pensava. Acho que porque eu não esperava, se passasse hoje de novo acharia bem mais fácil. É uma descida um pouco longa e com degraus muito altos, com a cargueira dificultando um pouco. Mas vamos lá. Primeiro cruzei o Rio das Pedras sem muita dificuldade, pulando as lajes pontudas e sem precisar tirar as botas (um bastão de caminhada ou cajado ajudam). Na margem esquerda, desci pelas lajes inclinadas procurando sempre o melhor caminho (de pouca altura e com pedras secas para não escorregar) até alcançar a garganta de uma grande queda, onde a parede vertical me obrigou a procurar algum caminho para dentro da vegetação, me afastando do curso d'água. Por um caminho mal definido acabei encontrando uma canaleta que era uma verdadeira pirambeira com degraus muito altos, mas com algum apoio na vegetação ao redor para não despencar de uma vez. Foi um pouco difícil, mas às 15h05 já pisava em terreno mais seguro no campo aos pés da canaleta, onde encontrei inclusive um totem.

Um pausa para relaxar e fotografar a bela cachoeira alta da qual tive de desviar e retomei a caminhada acompanhando o curso do Rio das Pedras na direção do seu encontro com o Córrego Fundo. Porém seguindo a trilha até o fim me deparei com o Córrego Fundo muito... fundo! Voltei 70m e tomei uma trilha meio escondida à direita que tangenciou um descampado e reentrou na mata ciliar à direita para me conduzir de volta ao rio exatamente num ponto onde o atravessei pulando duas pedras! Passei por uma clareira com restos de acampamento e finalmente alcancei a estradinha do vale do Soberbo às 15h44.

Tomei a estradinha estreita para a direita (noroeste) e após uma curva subindo à esquerda e descendo à direita, chego enfim ao Poço do Soberbo às 16h. Desde a minha primeira visita em 1993 nunca mais havia pisado ali. A marca do lugar e de seu passado de exploração de diamantes são as três casinhas de pedra (só uma delas com telhado) e os restos de instrumentos e máquinas usados no garimpo na década de 1960. O grande poço escuro recebe em forma de graciosa cachoeira as águas do Rio das Pedras, já engrossado pelo Córrego Fundo e Ribeirão Soberbo, nessa ordem. Esse é o ponto mais baixo de toda a travessia: 909m.

Não poderia continuar a travessia sem antes explorar um pouco mais aquele lugar. A curva do rio em direção ao enorme cânion atiçou a minha curiosidade e comecei a segui-lo. Mas a caminhada junto à margem não era tão fácil e procurei por trilhas, logo encontradas, que me levaram à boca do cânion, onde desci pelas lajes inclinadas ao lado do rio sem dificuldade. A exploração não foi muito longe pois logo um precipício impediu que eu continuasse, mas o que eu vi e fotografei até ali já me recompensara. Com a luz natural já indo embora, me presenteei com uma noite estrelada naquele lugar muito especial.

Nesse dia caminhei 8,4km, descontadas as explorações.

Imagem
Poço do Soberbo

3º DIA - DO SOBERBO À CASA DO SR ÁLVARO

Nesse dia iniciei a travessia para Fechados propriamente dita, com a tomada da direção norte/noroeste do Poço do Soberbo até o final. Água não foi problema nesse dia, não com tanta abundância quanto no dia anterior, mas não faltou.

Deixei o Soberbo às 7h49 e voltei pela estradinha 180m até a curva para a direita (sudeste), onde procurei uma trilha à esquerda que se aproximasse do Rio das Pedras. Caminhei pelas lajes da sua margem esquerda até encontrar um local apropriado para atravessar e não precisei tirar as botas. De novo o baixo nível das águas ajudou, seria bem mais difícil com o rio cheio. Cruzei-o muito próximo da queda-d'água que despenca no Poço do Soberbo e aproveitei para fotos dele por outro ângulo. Procurei na margem rochosa um caminho para alcançar a trilha para o norte, que já havia avistado do alto no dia anterior. Ao encontrá-la deparei com uma placa bem clara e objetiva: entrada proibida - invasores serão processados - art. 150 do código penal brasileiro. Como parecia que eu não era bem-vindo, tratei de passar o mais rápido possível pela fazenda para não ter necessidade de acampar nela. Porém ela é imensa e levei o dia todo para atravessá-la.

A partir da placa a trilha é bem marcada e sem erro por 1,8km, sempre para o norte e subindo pelo vale do Ribeirão Soberbo. Depois de avistar uma grande cachoeira à direita, a Cachoeira do Rubinho, a trilha cruza um córrego e parece terminar num cercado de arame farpado com um cocho amarelo de plástico. Ali perdi um bom tempo procurando o caminho certo pois começaram a surgir caminhos de vaca para vários lados. O mais fácil é cruzar a cerca e seguir a trilha para a direita, como se estivesse voltando (ou pegar um atalho uns 50m antes e cruzar o córrego em outro ponto, que dá na mesma). A trilha faz uma curva em ferradura subindo um pouco para a esquerda e continua para o norte num nível mais acima. No final dessa curva em ferradura sai uma outra trilha que desce para a direita e leva à bonita Cachoeira do Rubinho e seu enorme poço, outra das várias quedas do Ribeirão Soberbo, que nesse ponto faz uma curva de sudoeste para sudeste ao despencar das paredes da serra.

Depois de apreciar a cachoeira e seu poço, tomei definitivamente o rumo norte/noroeste, voltando à última bifurcação e seguindo em frente (direita) às 10h37. A subida suave vai ampliando a visão para trás do vale do Ribeirão Soberbo e mais distante o do Córrego Fundo. Às 10h58 a trilha nivela e tenho o último panorama do vale do Soberbo. Cinco minutos depois vou para a esquerda numa bifurcação por ser o caminho mais batido e cruzo um riacho. A vista do grande vale plano por onde caminharei começa a se abrir à minha frente, bem como uma subida em forma de S ao fundo. Às 11h22 atravesso uma tronqueira e 3 minutos depois subo o tal S escolhendo qualquer uma das várias trilhas que se juntam mais acima num caminho largo de pedras brancas e soltas.

No alto desse morrote é que a visão à frente se escancara num largo e extenso vale até onde a vista alcança, um imenso campo pontilhado por alguns capões de mata. Essa será minha paisagem pelo restante do dia.

Imagem
Campos sem fim

Às 12h42 encontro as águas escuras e transparentes do Córrego do Quartel em forma de um belo poço e algumas cachoeirinhas. Um convite a uma parada para almoço na sombra, na companhia de alguns cavalos que pastavam. Às 13h cruzo o córrego e retomo a caminhada, sempre para o norte. Daí em diante, por conta do gado, começo a encontrar diversas trilhas paralelas ou ligeiramente divergentes e também cruzamentos de trilhas. Isso será constante até o final da travessia e em alguns momentos causou um pouco de transtorno já que certas trilhas aparentemente paralelas acabam divergindo discretamente da direção correta. Perdi algum tempo com isso pois em alguns casos não percebi que estava saindo do caminho correto.

Às 14h me deparo com algumas pequenas lagoas à direita e salto pela vegetação para cruzar uma curta área alagada. Estou nas nascentes de um importante tributário do Córrego Cachoeira (nome que consta na carta), rio este que vai despencar da serra a oeste e formar a extraordinária Cachoeira do Inhame. Vou acompanhar esse afluente até a casa-sede da fazenda e depois acompanharei o próprio Córrego Cachoeira até suas nascentes pelo restante desse dia e na manhã toda do dia seguinte.

Às 14h09 avisto a casa-sede da fazenda na direção de uma verdejante plantação de capim napier que causa estranheza pois destoa demais da vegetação nativa. Em 7 minutos alcanço um curral com uma casa de pedra e cruzo a porteira. A casa-sede fica a uns 150m à esquerda, na direção de uma fenda na serra que é exatamente onde o Córrego Cachoeira despenca. Não avistei ninguém por ali mas disseram que sempre fica alguém cuidando do lugar. O caminho continua em forma de trilha, não há estrada até a casa. Cruzo uma porteira de ferro e uma pinguela e, como disse, passo a ter o Córrego Cachoeira à minha esquerda, na forma de uma comprida mata ciliar.

Fiz uma pausa de 18 minutos para um lanche e às 15h25 a trilha me levou para dentro da mata ciliar de um riacho onde encontrei uma "pinguela" muito ruim de troncos caídos. Pensei até que estivesse no lugar errado, mas era por ali mesmo. Cruzei o riacho e na sequência uma cerca por baixo. Depois da cerca não havia trilha muito marcada, somente alguns rastros no capim. Me aproximei da mata ciliar do Córrego Cachoeira à esquerda mas descartei a trilha que a penetra e caminhei para a direita até encontrar uma outra trilha paralela à mata ciliar, sempre na direção norte (se seu cantil estiver vazio, o Córrego Cachoeira pode fornecer água boa).

A trilha passa do campo aberto para um trecho entre árvores e arbustos junto à mata ciliar à esquerda. Às 16h23 um grande campo se abre à minha frente novamente porém a trilha começa a me levar para a direita (leste) e a voltar, me obrigando a abandoná-la. Não encontrei outra trilha por ali. Caminhei para o norte sem trilha e para atravessar um córrego de vegetação mais fechada tive de desviar para a esquerda até um ponto de passagem mais fácil. Uns 200m depois dele é que encontrei uma trilha que atravessou todo o campo seguinte de capim baixo, com locais de bastante erosão mais à frente. Ali já começo a avistar à esquerda a casa do sr Álvaro e a capela de pedra no alto.

Às 17h08 alcanço uma trilha bem marcada que desce da serrinha à direita e sigo por ela para a esquerda, na direção da casa. Em 9 minutos salto o Córrego Cachoeira pelas pedras e subo até a casa, chegando às 17h19, já com a luz natural se esvaindo. Para minha decepção não havia ninguém e a casa parecia abandonada há um bom tempo. Deixei para visitar a capela de pedra no dia seguinte mas de longe já havia percebido que infelizmente ela estava começando a ruir. Havia algumas vacas por ali e tratei de arranjar um local no pasto mais plano e longe da curiosidade delas. Altitude de 1092m.

Nesse dia caminhei 17,4km (descontadas as explorações e os erros).

Imagem
Capela de pedra do sr Álvaro

4º DIA - DA CASA DO SR ÁLVARO AO CÓRREGO ANDREQUICÉ

Esse dia rendeu bem pouco para mim em termos de distância percorrida, porém explorei vários caminhos possíveis e relaxei nas águas escuras e límpidas do Rio Preto, um dos melhores momentos de toda a travessia.

Comecei o dia explorando os arredores da casa do sr Álvaro, com diversos pés de fruta nos fundos. A subida à capela de pedra leva menos de 4 minutos e proporciona do alto uma bela visão panorâmica do trecho já percorrido do vale do Córrego Cachoeira. No interior diversas imagens num altar rudimentar de pedras. Mas impressiona ver metade da parede lateral desabada e a fachada principal toda escorada para não desmoronar também.

Sair dali para continuar a travessia me fez perder algum tempo já que havia caminhos marcados para vários lados. A primeira suposição que fiz é que a trilha da travessia não deveria passar dentro do quintal da casa do sr Álvaro, e sim no pasto do outro lado do Córrego Cachoeira, mas nisso eu já estava enganado. Percorri as trilhas bem marcadas do outro lado do rio e todas morriam na mata ciliar. A trilha por onde eu cheguei no dia anterior tomava rumo nordeste e subia a serrinha, o que me pareceu errado. Restou-me cruzar o quintal da casa e procurar algum outro caminho. Passei por baixo da cerca dos fundos, percorri os pés de manga e uma trilha apareceu, descendo ao ribeirão, que cruzei pelas pedras às 9h34. Passei pela tronqueira e na bifurcação seguinte fui para a direita, alcançando uma outra trilha bem marcada que tomei para a esquerda (norte).

Essa trilha também se divide em várias e encontra uma profunda erosão escavada na encosta. O melhor é subir para as variantes da direita bem antes da erosão (uns 150m antes) e passar acima dela pois ali está a continuação certa do caminho. As trilhas que seguem em nível ou derivam para baixo só confundem.

Esse local é geograficamente interessante pois é a transição do vale do Córrego Cachoeira para a bacia do Rio Preto. Aos poucos ocorre uma mudança drástica do tipo de vegetação também, saindo do campo de gramíneas para um típico cerrado de árvores baixas e espaçadas, onde escolhia a trilha mais batida entre tantas que surgiam. Ao me deparar com uma cerca nova (que atravessei por baixo às 11h15) todas as trilhas sumiram! Gastei algum tempo procurando a continuação do caminho e concluí que o melhor era sair daquele cerrado e alcançar o campo aberto à esquerda, onde encontrei uma trilha bem marcada para o norte.

Quase 1km depois a trilha cruza uma vala e se divide. Fui para a direita, atravessei um alagado e uma rústica porteira de vara e subi até uma casa, aonde cheguei às 12h23. A casa, já avistada havia algum tempo, é do Canela e também estava deserta. Uma mangueira de água ao lado foi perfeita para matar a sede e abastecer os meus cantis (a primeira água desde a casa do sr Álvaro). O alagado que havia acabado de atravessar já são as águas de um afluente do Rio Preto.

Tomei a trilha bem aberta e marcada à direita da casa às 13h17 e ela logo apontou para o norte, meu destino. Parecia que essa trilha seria duradoura, porém, assim como tantas outras, em menos de 15 minutos ela desapareceu no capim. Aqui há várias formas de continuar o caminho. Se quiser cruzar o Rio Preto no mesmo ponto em que eu cruzei basta procurar uma trilha batida mais para oeste cruzando o bosque à esquerda. Ela leva exatamente para o norte. Eu na verdade continuei pelo campo sem trilha na direção norte/noroeste até encontrar um grande cruzeiro e depois segui por trilhas na mata que são até difíceis de explicar. Mas ambas convergem e alcançam o Rio Preto num local fantástico, com poços para banho e duas lindas cachoeiras. Cheguei a esse local às 15h38 depois de explorar vários caminhos possíveis.

Imagem
Cachoeiras no Rio Preto

Além desse caminho soube de um outro que sai da casa do Canela diretamente para nordeste, atravessa o Rio Preto num outro ponto para só então tomar a direção norte. O único inconveniente de atravessar o Rio Preto onde eu atravessei é que é um pouco difícil encontrar a continuação da trilha do outro lado, tarefa que me tomou um bom tempo.

Atravessei o Rio Preto inicialmente saltando e caminhando pelas lajes pontudas aflorando da água, mas depois a distância do salto aumentou muito e aproveitei para entrar no rio e tomar um banho. Ao sair dele, caminhei um pouco para a direita pelas lajes da margem (na direção das cachoeiras) mas logo me afastei da água e comecei a subir pela vegetação baixa sem trilha marcada. Mais acima procurei bastante e consegui encontrar uma trilha meio apagada na direção norte, a qual me levou às margens de outro rio, o Andrequicé (consta erradamente como Córrego Samambaia na carta topográfica). Cruzei-o e não encontrei trilha imediatamente, mas uns 100m na direção nordeste me levaram a uma trilha bem marcada correndo na direção sudeste/noroeste. Peguei-a para a esquerda (noroeste) e na bifurcação tomei a esquerda, cruzando o Córrego Andrequicé novamente. Com o dia findando e na iminência de subir a pequena serra a oeste, montei meu acampamento ali mesmo, próximo ao rio. Altitude de 1091m.

Nesse dia caminhei apenas 6,8km (descontadas as explorações e os erros).

5º DIA - DO CÓRREGO ANDREQUICÉ À CASA DO VALTINHO

Para o último dia da travessia restou sair do extenso vale por onde caminhei desde o Poço do Soberbo através de uma trilha (conhecida como Subidão do Miltinho) que sobe a serrota a oeste e percorre sua cumeeira até descer ao Ribeirão Fechados, mais exatamente na direção da casa do Valtinho e da Mirtes.

Deixei o acampamento do Córrego Andrequicé às 8h25 e tomei a direção oeste por trilha. Cruzei uma outra trilha bem marcada no sentido norte-sul, pulei um riacho à direita e comecei a subir o Subidão do Miltinho. Importante: deve-se completar todos os cantis nesse riacho pois será a última água do dia. Na subida, a bonita paisagem se alarga, com o vale do Andrequicé logo abaixo, a Cachoeira do Samambaia à esquerda e o vale do Rio Preto mais ao fundo, motivo para diversas paradas para fotos. Com as paradas, levei 45 minutos para atingir o alto da serra.

Já no alto, desci às 9h35 a um pequeno vale à esquerda e subi novamente, tomando de novo a esquerda na bifurcação seguinte. Aproveitei a altitude de 1393m (o ponto mais alto da travessia) e consegui enfim fazer uma ligação (operadora Claro) para dar notícias. O panorama de 360º revela montanhas distantes que não consegui ainda identificar.

Imagem
Vale do Andrequicé e vale do Rio Preto mais ao fundo

Quando pensei que já estava no rumo definitivo da casa do Valtinho, o problema das várias trilhas paralelas (em que algumas divergem discretamente e levam a um caminho errado) volta a acontecer. Avançando no sentido noroeste, às 11h34 vi a primeira pessoa em quatro dias: um cavaleiro com três cachorros. Mas logo percebi o infeliz motivo da sua presença ali: estava colocando fogo no pasto e logo a fumaça começou a invadir tudo, no exato momento em que fiquei em dúvida quanto ao caminho e não pude me aproximar dele pois desapareceu na fumaceira. É que a trilha mais batida ali me levava a uma tronqueira e continuava pelo alto da encosta direita de um vale (vale das nascentes do Ribeirão Fechados), porém o gps apontava o meu destino final mais para noroeste, na encosta oposta desse vale. Abandonei então às 11h47 a trilha batida do norte e procurei outra mais para oeste. Não havia uma trilha bem marcada e contínua e as cinzas da queimada dificultavam um pouco mais a localização. Até que encontrei uma e continuei para oeste, passando por baixo de uma cerca à esquerda de uma pirâmide de pedras às 12h52. Menos de 100m depois um belo mirante para o norte e a trilha inclina um pouco para sudoeste. Aqui cometi um erro feio na direção que me fez perder mais de duas horas: a trilha, apesar de bem marcada, me levou a uma borda da serra em que não havia trilha para descer ao vale do Ribeirão Fechados. Via lá do alto a casa do Valtinho no meio de uma ilha verde de pés de frutas e capim napier, mas não havia caminho por ali. Perdi muito tempo procurando a continuação da trilha mas a descida seria meio complicada, então voltei quase até o mirante. Ali percebi o erro. Na vinda, cerca de 430m depois do mirante, eu deveria ter trocado a trilha batida em que estava por um duplo carreiro abaixo à esquerda, ainda mais pisado e até sulcado. Este vinha da esquerda e é um sinal de que há um caminho melhor do que esse que eu fiz, atordoado pelo fogo e pela fumaça da queimada.

Tomei portanto o caminho correto às 15h18 e às 16h04 comecei a descer a ladeira de pedras brancas soltas em direção ao fundo do vale do Fechados, aonde cheguei às 16h23. Antes do rio caminhei 75m para a esquerda, cruzei-o pelas pedras e passei enfim pela porteira da casa do Valtinho, que estava apenas 250m acima, no meio de muito verde. Altitude de 1122m.

Nesse dia caminhei 11,7km (descontadas as explorações e os erros).

Distância total percorrida: 59,2km

Informações adicionais;

As empresas que fazem São Paulo-Belo Horizonte são a Cometa (http://www.viacaocometa.com.br) e a Gontijo (http://www.gontijo.com.br).

A Lapinha não é servida por ônibus regular de nenhuma empresa. Os moradores costumam usar o ônibus escolar para se deslocar a Santana do Riacho, com dois horários por dia quando há aula. No caso dos visitantes, vale conversar com o motorista e ver se há possibilidade de uma carona.

Na Lapinha há hospedagem de todo tipo, desde quartinhos para alugar até boas pousadas, passando por campings de vários preços também.

A empresa Saritur (http://www.saritur.com.br) faz a linha Belo Horizonte-Santana do Riacho diariamente às 7h30 e 15h15.

O Valtinho e a Mirtes têm hospedagem em casa. A diária com pensão completa está R$70 e o telefone é 31-9655-4326.

Da casa do Valtinho até o povoado de Fechados são 6km descendo a serra, num desnível de 500m.

Cartas topográficas:
. Baldim: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/mapas/GEBIS%20-%20RJ/SE-23-Z-C-III.jpg
. Presidente Kubitschek: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/mapas/GEBIS%20-%20RJ/SE-23-Z-A-VI.jpg

Rafael Santiago
maio/2014

Percurso na imagem do Google Earth - parte 1
Percurso na carta topográfica - parte 1

Percurso na imagem do Google Earth - parte2

Percurso na carta topográfica - parte2
Percurso na imagem do Google Earth - parte3
Percurso na carta topográfica - parte3
Percurso na imagem do Google Earth - parte4
Percurso na carta topográfica - parte4

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Travessia Cardeal Mota-Lapinha (Serra do Cipó-MG) - mai/2014

Esta é a primeira parte da travessia Cardeal Mota-Lapinha-Fechados. A segunda parte esté em http://trekkingnamontanha.blogspot.com.br/2014/07/travessia-lapinha-fechados-serra-do.html.

Imagem
Cachoeira no Rio Parauninha

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/TravessiaCardealMotaLapinhaSerraDoCipoMGMai2014.

Quando se fala em Serra do Cipó, podemos pensar em dois segmentos diferentes, ambos pertencentes à extensa e bela Serra do Espinhaço. O primeiro, ao sul da rodovia MG-010, seria a área de 338 km2 protegida pelo parque nacional criado em 1984, o outro seriam as terras mais ao norte dessa rodovia, composto de grandes propriedades particulares, mas onde também se consolidaram extensas e atraentes travessias, como a famosa (e demasiadamente batida) Lapinha-Tabuleiro.

Percorrer toda a extensão do Cipó norte foi o projeto a que me propus desta vez e que me proporcionou 7 dias de belas paisagens caminhando a maior parte do tempo no interior de um largo e infindável vale num dos degraus da porção oeste da Serra do Espinhaço. A idéia foi caminhar desde o distrito de Cardeal Mota (atualmente denominado Serra do Cipó, município de Santana do Riacho) até o vilarejo de Fechados, pertencente a Santana de Pirapama, passando pela Lapinha, também distrito de Santana do Riacho.

Vale lembrar que esse tempo de 7 dias se fez porque não havia pressa alguma, pelo contrário, havia tempo para curtir rios e cachoeiras, contemplar a paisagem, fotografar, explorar trilhas adjacentes para futuras travessias e, por que não, errar e corrigir o caminho.

Para relatar essa ótima experiência solo e não criar um texto longo demais, dividi a caminhada em duas etapas:
1. travessia Cardeal Mota-Lapinha (o texto abaixo)
2. travessia Lapinha-Fechados (http://trekkingnamontanha.blogspot.com.br/2014/07/travessia-lapinha-fechados-serra-do.html)

Imagem
Rio Parauninha

TRAVESSIA CARDEAL MOTA-LAPINHA

1º DIA:

Embarquei no ônibus da Cometa das 21h15 em São Paulo e cheguei à capital mineira às 5h15. No guichê da Saritur comprei uma passagem para Cardeal Mota (atualmente chamada de Serra do Cipó) que tivesse como destino final alguma cidade diferente de Santana do Riacho para poder descer em frente ao Camping da ACM, mais conhecido como Véu da Noiva, por causa da cachoeira em seu interior. Se eu embarcasse no ônibus com destino a Santana do Riacho teria de caminhar 2,8km pelo asfalto desde o centrinho de Cardeal Mota até o camping, o que eu quis evitar (correção em 02/07/14: os ônibus com destino a Santana do Riacho passam por Cardeal Mota e vão até o Camping da ACM, segundo me informaram, retornando em seguida ao trevo para seguir para essa cidade).

Peguei o ônibus das 6h30 e saltei em frente à placa da Véu da Noiva às 9h15, no km 104 da MG-010. Altitude de 767m. Me preparei para começar a caminhada e às 9h28 atravessei a rodovia e peguei a rua de terra em frente à portaria do camping. Após uma suave curva à direita, segui à direita na bifurcação e logo passei em frente à Pousada Carumbé. Uns 300m depois, abandonei a estradinha de terra e entrei numa porteira à direita onde se lê "Lapa Padre Borges". A partir desse ponto meu caminho seria por trilhas por dentro de uma matinha por cerca de uma hora. Pelas placas que se seguiram percebi que estava entrando no Grupo 3 do conjunto do Morro da Pedreira (a mais badalada área de escalada esportiva de Minas Gerais, segundo um site), e logo os paredões e pequenas trilhas até eles foram surgindo. Nas bifurcações, me mantive na trilha principal até que ela me levou a um ponto de escalada que deve ser o mais frequentado. Dali segui por uma trilha menos batida e me deparei com uma clareira com vários caminhos. Segui pela trilha bem em frente, que desceu para a esquerda e em 18 minutos passou ao lado de um riacho, a primeira água.

A trilha sai da mata, cruza um campo e às 10h53 alcanço um final de estrada de terra com uma casa à direita. Prossigo pela estradinha sombreada e cruzo com um caboclo à procura de um burro, que até me perguntou se eu o havia visto lá na mata de onde eu vim. Cruzo uma porteira de ferro e continuo à esquerda nas duas bifurcações que aparecem. Após uma curva fechada de 180º à direita, entrei na porteira branca à direita e desci suavemente pela trilha até as margens do Rio Parauninha. Gastei algum tempo à procura de um ponto para atravessá-lo sem tirar as botas mas não houve outro jeito. Cruzei-o ao meio-dia num ponto à direita de onde cheguei, num local bem pisado, até pelo gado que pasta por ali. Porém nesse local é preciso atentar para o fato de que o primeiro riacho é o Córrego Chapéu de Sol, um afluente, com o Parauninha mesmo correndo à esquerda. Portanto nesse ponto é preciso atravessar o primeiro córrego caminhando já para a esquerda para atravessar o Parauninha em seguida. A água chegou no máximo ao joelho e a correnteza não estava forte. Esse é o ponto mais baixo da travessia: 731m.

Imagem
Rio Parauninha com nível muito baixo após a barragem expondo o leito de pedras

Na outra margem uma cerca bastante cerrada obriga a caminhar pela trilha para a esquerda até uma porteira de ferro e depois uma casa no final de uma outra estrada de terra. Caminhei 460m pela estrada e topei com uma bifurcação em T: para a direita um portão alto fecha a passagem e uma placa velha avisa "área de acampamento interditada pelo Ibama". Segui então para a esquerda por apenas 100m e entrei numa trilha à direita da estradinha deserta. Uma clareira de areia confundiu um pouco mas foi só seguir em frente mesmo que a trilha reapareceu. Numa bifurcação fui para a esquerda e comecei a subir a serra por uma trilha bem marcada. À medida que subia a paisagem foi se alargando e pude visualizar todo o caminho percorrido até ali. Depois de algum tempo comecei a ver uma usina às margens do Parauninha, com acesso por aquele portão alto trancado. Depois descobri tratar-se da Usina Pacífico Mascarenhas, criada em 1929, que gera energia para a Cia de Fiação e Tecidos Cedro. Às 13h51 avisto uma grande cachoeira com um largo poço de águas negras, mas não encontrei nenhum acesso a ela. Às 14h03 atingi o topo da trilha, onde restam paredes de uma pequena barragem desativada. Dali em diante ela segue (meio fechada pelo mato) em nível pela encosta do morro, ao lado de um canal antigamente usado para suprir a pequena barragem. Do alto pude ver a situação do Rio Parauninha, com o nível muito baixo e todo o leito de pedras exposto formando um longo corredor de pedras até a muralha de uma barragem mais acima. Mais à frente existe uma saída à direita da trilha para essa barragem mas ela está interditada e com aviso de perigo de morte.

Às 15h cruzei um portão de madeira e ao lado dele uma placa de "entrada proibida - propriedade da Cedro", ou seja, estava saindo de uma área restrita da empresa e nem sabia. Cruzei o Córrego do Boi (de água boa, provavelmente; a segunda do dia sem contar o Parauninha), fui à direita na bifurcação e passei por um quebra-corpo ao lado de uma casa, alcançando um caminho largo e gramado. Desci à direita para ver novamente o Rio Parauninha e nesse local ele é bem largo e fundo e pequenas balsas feitas de tambores auxiliam na travessia. Aliás, esse seria um local alternativo a quem quer fazer essa travessia sem passar pela área proibida da Cedro, correndo risco de ser barrado e expulso.

Mas a descida ao rio foi só para vê-lo, meu caminho mesmo era para cima no caminho gramado. Do rio subi 320m e cruzei uma porteira de ferro com uma casa de tijolos aparentes à esquerda. Nesse ponto aparecem trilhas para todos os lados, mas as que me interessavam eram as que tomavam a direção oeste, rumo à Lapinha pelo vale, não pelo alto da serra. Portanto deveria entrar no vale à esquerda (oeste), exatamente do último ribeirão de água boa cruzado 20 minutos antes, o Córrego do Boi. Para isso, após algumas erradas, constatei que o melhor caminho é subir à esquerda logo depois da porteira de ferro por uma trilha inicialmente meio apagada que desemboca numa outra bem marcada, que deve ser abandonada após alguns passos para entrar numa outra trilha à esquerda que também começa bem apagada mas depois fica batida e é o caminho mais direto para o vale citado. A subida do vale é bem suave, com o rio principal à esquerda e alguns pequenos afluentes pelo caminho. Após cruzar o terceiro deles encontrei um bom local de acampamento e dei por encerrado o dia de caminhada, às 17h15. Altitude de 1152m. Ainda tive um tempo de luz para subir um pouco mais e apreciar um belo cânion atrás do qual o sol se punha, avermelhando as nuvens. Depois vim a saber que se tratava do Cânion das Éguas, outro local de escalada.

Nesse dia caminhei 14km.

Imagem
Pepalantus

2º DIA:

Do local onde acampei junto ao riacho saí às 8h13 e caminhei para oeste, subindo na direção do cânion, porém 100m antes de alcançar a sua borda abandonei essa trilha e fui para a direita (norte), sem trilha mesmo, na direção de um pequeno selado ou passagem. Cruzei uma cerca quebrada e encontrei um final de trilha que me levou ao alto e descortinou nova paisagem ao norte, além de proporcionar ampla visão do caminho percorrido ao sul, inclusive com algumas casas lá pros lados de Cardeal Mota. A trilha segue bem marcada porém continuar por ela não é a melhor opção pois é preciso subir ao topo da crista que corre à direita (leste) e a picada apenas leva a um campo e lá desaparece. É melhor então subir logo à crista à direita procurando pedaços de trilha (que aparecem e desaparecem) que vão em sua direção. Parei nessa subida para fazer uma ligação aproveitando o bom sinal da Claro e às 10h58 já caminhava na crista, agora por uma trilha bem marcada que acompanharei por muito tempo. Esse é o ponto mais alto dessa travessia: 1361m. Mas a trilha fica bem pouco no alto e logo começa a descer para a outra vertente. A vegetação ali estava toda queimada e por vezes tive dúvida da direção pois é mais difícil visualizar a trilha coberta de cinzas.

A descida abriu nova visão do caminho à frente e um grande vale recoberto de capim verde e dourado chamou a minha atenção pela beleza e pelo isolamento. Esse vale abriga as nascentes do extenso Córrego Mata-Capim, que será minha companhia, próximo ou a distância, até a chegada à Lapinha. Ao fundo avisto pela primeira vez a Serra do Breu, com os picos da Lapinha e do Breu nas extremidades do conjunto. A trilha me levou para dentro do bonito vale, quase uma miniatura da Lagoa Dourada, e o cruzei de ponta a ponta, o que rendeu algumas boas fotos. Às 12h08 a trilha se aproximou do Mata-Capim e aproveitei para almoçar, tendo o primeiro contato com suas águas límpidas (parada de 24 minutos). Na continuação, há um trecho em que a trilha se torna bastante pedregosa, cruza um colchete, um riacho e desemboca num vasto campo onde volta a ficar mais fácil caminhar (13h11). Porém ali a quantidade de trilhas de gado deixa dúvidas quanto ao melhor caminho. No geral, o ideal é manter-se mais à direita pois as trilhas da esquerda tendem a se afastar da rota e descer para o Mata-Capim.

Depois de cruzar uma vala seca e lindos campos floridos, às 14h35 atravessei o Rio Mata-Capim, passando a caminhar por sua margem esquerda. Um trecho de 120m de mata me lançou a um corredor de arbustos e samambaias que me arranharam os braços e enroscaram na mochila até desembocar num pasto com palmeiras e vacas de onde se avista novamente a Serra do Breu inteira. Na descida um curral junto às ruínas de uma casa e às 14h57 cruzo um riacho mais complicadinho me esgueirando pelo mato à esquerda. Nesse local os pontos marcados no gps me levaram a uma grande roubada e me fizeram bater cabeça por duas horas. O correto, depois eu descobri, é ir para a direita ao sair do riacho, descer até o Mata-Capim, cruzá-lo pelas pedras e continuar pela trilha bem marcada do outro lado. Porém eu não vi essa opção na hora e segui orientado pelos pontos que levei no gps (baixados do Wikiloc). Fui para a esquerda após o riacho e me meti num corredor de arbustos espinhentos e samambaias cheio de bifurcações que depois de 900m de arranhões me jogou numa ponta alta de crista com paredões e ribanceiras de todos os lados. Havia muito caminho de gado ali (estranhamente) e perdi um bom tempo percorrendo corredores para todo lado no meio da vegetação à procura da saída daquele lugar. Descansei um pouco, respirei fundo e voltei pelo mesmo caminho até o riacho, tendo arranhões em dobro. Ao chegar ao riacho, vasculhei e encontrei a trilha descendo ao ribeirão principal daquele vale, o Mata-Capim. Cruzei-o às 17h e decidi acampar ali mesmo pois logo iria escurecer e eu não sabia se havia um bom lugar à frente. Altitude de 1144m.

Nesse dia caminhei 9,5km (descontado o erro no final do dia).

Imagem
Cânion das Éguas

3º DIA:

Comecei a caminhar às 7h29 pela trilha bem marcada da margem direita do Mata-Capim e em 20 minutos, quando ele faz uma curva brusca para oeste, subi a encosta da esquerda e abandonei esse vale. Em tempo: nessa curva brusca para oeste ele entra no minicânion sobre o qual eu cheguei no dia anterior e fiquei sem saída. No alto encontrei novo corredor de vegetação alta de pouco mais de 230m, mas esse causou menos estragos nos braços. Em seguida a visão à frente se abriu e pude divisar novamente a Serra do Breu e abaixo à esquerda o vale para onde a trilha iria me levar. A longa serra mais à esquerda é a muralha natural entre o vale do Mata-Capim e a Represa da Usina Coronel Américo Teixeira, mais conhecida como Represa da Lapinha, a oeste. Às 8h19, já descendo ao vale, topei com um casebre de adobe semidestruído e na sequência um rio largo que desce do alto da serra à direita, o qual atravessei pulando as pedras sem dificuldade. Na outra margem, um colchete e outro corredor de samambaias. Mais 140m e a trilha cruza um riacho à esquerda e na sequência o mesmo rio novamente. Do outro lado, a continuação não era tão óbvia mas encontrei sem dificuldade. Mais 100m e a trilha reencontra o tal rio, porém dessa vez a continuação não foi tão fácil. Caminhei uns 40m para a esquerda pelo leito de pedras e subi do outro lado por uma abertura na mata ciliar, porém a trilha tendia a me levar para a esquerda, descendo mais o rio. Na verdade eu deveria seguir em frente e me afastar do rio, mas a vegetação fechada e uma cerca dificultavam. Procurei um caminho mais para a direita (subindo um pouco o rio) e encontrei, ganhando o campo após a mata. O Mata-Capim se junta a esse rio que vem do alto da serra em algum ponto nessas três travessias consecutivas, mas não visualizei isso na hora e não pude constatar com precisão o local pelos mapas.

Às 9h, uma legítima casa de taipa, adobe e sapé em bom estado chamou-me a atenção pela rusticidade e bom estado de conservação. Cerca de 200m depois dela, a trilha entra numa mata curta que termina num campo em que a trilha certa (direita) está um pouco apagada e tomada pelo mato, e uma outra (esquerda) leva para a mata à esquerda e desaparece. Me mantive à direita portanto até reencontrar a trilha bem batida na entrada da mata seguinte. Às 9h37 enfim piso em terreno conhecido: uma bifurcação junto a um riacho (à esquerda) onde o ramo da direita leva à Cachoeira do Lajeado e a esquerda à Lapinha. Não fui rever a cachoeira porque a estiagem este ano tem sido muito longa e ela devia estar com menos água ainda do que em junho de 2012, quando a conheci. Não valeria tanto os 940m de caminhada até ela. Desci portanto à esquerda, cruzei o ribeirão de pedras brancas e água verde-escura que vem da cachoeira, passei no quebra-corpo da cerca e fui anunciado com estardalhaço pelos cachorros da casa próxima, mas não havia ninguém, como da outra vez.

A partir da casa a trilha transforma-se numa avenida, afinal a Lapinha já está bem próxima e o lugar é um grande pasto às margens do Córrego Mata-Capim. Um pouco antes da porteira azul, às 10h13, parei para um breve descanso e acho que isso foi a minha desgraça pois mais tarde descobri que estava com o corpo infestado de micuins, um tipo de carrapato microscópico que ataca aos punhados. Novamente, como ocorreu ontem, a quantidade de trilhas de vaca confunde um pouco, mas também me mantive sempre nas trilhas mais à direita para evitar descer na direção do rio principal do vale. Abasteci os cantis no límpido riacho seguinte e atravessei 100m de mata logo após uma porteira verde. Após a mata já vejo o Mata-Capim caudaloso e largo abaixo à esquerda.

Imagem
Flores do campo no vale do Mata-Capim

Logo comecei a notar o aumento de contruções deste lado do rio e principalmente na colina do outro lado, sinal de que muitos forasteiros estão vindo para a Lapinha para ter sua casa de final de semana (que deve permanecer fechada a maior parte do ano...). Mas a primeira decepção veio em seguida, ao topar com uma cerca bem cerrada fechando o largo caminho. Pelo jeito, o proprietário da grande casa cor-de-abóbora construída ao lado não quer ver gente passando por ali e fechou a passagem para que outro caminho se consolide fora de seu terreno. Voltei 200m e bem na frente de um outro sobrado em construção peguei uma trilha estreita à direita que desceu a um córrego e subiu a uma porteira, após a qual retomei o caminho largo e batido para a Lapinha. Cruzei outro riacho e ao me aproximar da porteira seguinte atentei para as várias trilhas paralelas saindo para a direita que sobem a serra para a famosa travessia para o Tabuleiro.

Mais um riacho, mais duas porteiras e às 11h40 começo a contornar para a esquerda a extremidade norte da Lagoa da Lapinha, mas uma casinha em construção à direita, junto a uma cerca, me chamou a atenção. Placas em frente a ela alertavam para a proibição de bebidas e churrasco nas cachoeiras e na beira dos lagos. Depois ouvi falar que essa casinha será um local de cobrança de entrada para acesso às cachoeiras, todas pequenas e de pouca expressão, contudo fonte de água para a população do povoado. É, a Lapinha está crescendo desordenadamente como tantos outros lugares e a falta de consciência e educação das pessoas que a frequentam já começa a causar problemas e consequentes restrições. Terminei de contornar a lagoa, cruzei a ponte de concreto e cheguei enfim à Lapinha às 11h49, estacionando no primeiro restaurante que vi, o da Dona Lina, onde funciona um camping também. Ali matei a fome de três dias de caminhada com uma legítima comida mineira, simples e saborosa, servida no fogão a lenha. Altitude de 1098m.

Nesse dia caminhei 9,4km.
Distância total percorrida: 32,9km

Esse relato continua com a travessia Lapinha-Fechados, que postarei em breve.

Imagem
Serra do Breu ao fundo e Vale do Córrego Mata-Capim à esquerda

Informações adicionais:

As empresas que fazem São Paulo-Belo Horizonte são a Cometa (http://www.viacaocometa.com.br) e a Gontijo (http://www.gontijo.com.br).

Para chegar ao Camping da ACM (Véu da Noiva) deve-se pegar em Belo Horizonte:
1. qualquer ônibus da viação Serro (http://www.serro.com.br) que vá para ou passe em Conceição do Mato Dentro:
seg e qua: 6h, 8h, 9h, 13h, 15h, 17h
ter e qui: 6h, 8h, 9h, 11h, 13h, 15h, 17h
sex: 6h, 9h, 13h, 15h, 17h, 19h, 20h
sáb: 6h, 8h, 10h, 13h, 15h, 17h
dom: 6h, 8h, 9h, 13h, 15h, 17h, 19h, 21h

2. as linhas da empresa Saritur (http://www.saritur.com.br) que vão para Santana do Riacho, Carmésia e Morro do Pilar:
seg a qui: 6h30, 7h30, 14h, 15h15
sex: 6h30, 7h30, 14h, 15h15, 18h45
sáb: 6h30, 7h30, 14h, 15h15, 16h45
dom: 6h30, 7h30, 15h15, 20h

Carta topográfica de Baldim (http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/mapas/GEBIS%20-%20RJ/SE-23-Z-C-III.jpg).

Rafael Santiago
maio/2014

Percurso do 1º dia na carta topográfica
Percurso do 1º dia na imagem do Google Earth
Percurso do 2º dia na carta topográfica
Percurso do 2º dia na imagem do Google Earth
Percurso do 3º dia na carta topográfica
Percurso do 3º dia na imagem do Google Earth

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Travessia Serrinha do Alambari-Visconde de Mauá (RJ) - abr/14

Imagem
Borda leste de Itatiaia

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/TravessiaSerrinhaDoAlambariViscondeDeMauaRJAbr14.

Integrantes: Ronald, Amarildo, Rodrigo, Célio, Karine, Myung Lee e eu

Após a travessia Penedo-Serrinha do Alambari (relato em http://trekkingnamontanha.blogspot.com.br/2014/04/travessia-penedo-serrinha-do-alambari.html), passamos a noite na Pousada Conquista na Serrinha para no dia seguinte fazer a travessia para Visconde de Mauá.

Saímos da Pousada Conquista às 8h26 e tomamos a Estrada do Camping à direita, na direção dos condomínios Alto do Pinhal e Vale Verde. Subimos à direita na bifurcação com placas e alcançamos o portal dos citados condomínios às 8h38. Cerca de 200m depois entramos num segundo portal à direita e seguimos até as casas. O local estava deserto. Logo após a primeira casa descemos à direita acompanhando o calçamento, mas logo o abandonamos e cruzamos o gramado à esquerda na direção da mata ciliar até encontrar uma trilha bem marcada que nos levou num instante ao cristalino Rio Santo Antônio. Tiramos as botas e cruzamos o rio às 9h10 na altitude de 976m. Na margem oposta uma placa da RPPN Santo Antônio sinaliza a continuação da trilha.

Dali em diante seria uma subida longa e constante sob a sombra da floresta, num desnível de 683m até a saída da mata para o campo de altitude e mais 25m até o cume da serra.

Na parte mais baixa a trilha não é muito bem marcada e exige bastante atenção. Há algumas marcas de facão nas árvores. Na cota dos 1220m, às 9h51, paramos para um rápido descanso. Na altitude de 1439m, às 10h35, a subida se torna bem mais forte e cansativa. Às 11h alcançamos o acesso a uma fonte de água bem abaixo da trilha principal, com descida por uma picada escorregadia. Isso já nos 1564m de altitude. Apenas alguns do grupo desceram para saciar a sede na água geladinha. Ao pegar a minha mochila deixada no chão, vimos que um bicho-pau havia resolvido conhecê-la. Aproveitamos para fotos com esse curioso habitante da floresta.

A partir da água foram apenas mais 12 minutos para sair da mata e ter a espetacular visão das montanhas e vales ao redor (11h36). A borda leste de Itatiaia estava toda na nossa frente, porém seus principais picos, como Cabeça de Leão e Pico do Gigante, não estavam visíveis daquele ângulo. Reconhecemos apenas o Pico da Maromba, o Marombinha e a Pedra Preta (ou Pico Serra Negra) bem à direita (noroeste). Depois, olhando as fotos, consegui identificar também o maciço do Pico Cabeça de Leoa.

Imagem
Pedra Selada de Mauá

O cume estava muito próximo e boa parte do alto dessa serra é formada de arbustos e árvores pequenas. A trilha continua percorrendo a crista toda e proporciona visão para todos os lados. Dois mirantes à direita dão visão para a Serrinha, Penedo, Resende e o Rio Paraíba do Sul, com a Serra da Bocaina bem ao fundo. Mais adiante, ao atingir o cume de 1684m, às 12h07, a imponente Pedra Selada de Mauá se destaca no horizonte.

Paramos para um lanche na primeira sombra com mais espaço e às 12h52 demos início à descida. Pela nossa experiência anterior, de agosto de 2012, dali em diante começaria um vara-mato já que a trilha havia sumido sob a vegetação cerrada. Porém, para nossa surpresa, encontramos a trilha aberta e bem marcada nos 400 metros de descida até o riacho principal desse vale. No caminho cruzamos um regato com uma fina e alta cachoeira à direita.

O avanço até o riacho principal foi portanto bastante fácil, mas a moleza acabou ali mesmo. A vegetação de arbustos duros tomou conta do campo seguinte e escondeu a trilha. Tivemos alguma dificuldade para encontrar a sua continuação e depois fomos rasgando a vegetação baixa onde parecia menos fechado, com algum vestígio de trilha no chão, que só era visível abrindo os arbustos com as mãos. Tomamos a direção de algumas araucárias e após 400 metros de rasgação de mato encontramos uma trilha. Junto a uma araucária o mato estava roçado e dali para a frente não houve mais dúvida. Passamos por uma plantação de pinus, depois eucaliptos e descemos até encontrar uma estradinha coberta de capim às 14h05. Continuamos descendo à direita e em menos de 50m alcançamos uma outra estrada abandonada com postes de energia, onde fomos para a esquerda (tivemos informação depois de que à direita sairíamos no Vale da Grama).

Às 14h23 cruzamos um ribeirão raso pelas pedras, sem tirar as botas. À direita dele uma queda-d'água artificial, concretada. Mais 20 minutos e já estávamos nas primeiras casas da Fazenda Marimbondo, onde cruzamos o Rio do Marimbondo por uma ponte de alvenaria. As casas seguintes da fazenda também estavam todas fechadas e desertas, apenas um cachorro se incomodou com a nossa passagem, mas ninguém apareceu. Saímos pelo portão principal e caímos na estrada que vem do Vale do Pavão, a qual termina ali mesmo no portão da fazenda. Subimos menos de 200m e entramos na trilha à direita (1483m de altitude) que leva em menos de 10 minutos ao Poço do Marimbondo, aonde chegamos às 15h12.

Imagem
Pico da Maromba

Após o banho gelado dos corajosos, estávamos de volta à estrada às 15h40 para descer até a Pousada Flor da Serra, cerca de 3,4km dali, onde combinamos o encontro com o nosso resgate já que a kombi não conseguiria subir mais próximo. No caminho perdemos a conta de quantos deslizamentos de terra havia na estradinha, a maioria de barrancos desmoronados a soterrando, mas também de crateras que quase levaram-na encosta abaixo. Até o restaurante Babel os carros conseguiam chegar, dali para cima os deslizamentos impediam o tráfego. E disseram que tudo aconteceu com as chuvas da semana que passou.

Chegamos à pousada às 16h46 e o Sinval já nos esperava para nos levar de volta à Pousada Conquista, na Serrinha, para pegar os carros. Essa viagem durou 1h10.

Informações adicionais:

A travessia Serrinha do Alambari-Visconde de Mauá é uma caminhada que tem propriedades particulares nas duas pontas, portanto é recomendável ter um contato amigável e cordial com os proprietários e pedir permissão para a passagem.

Extensão da trilha (do Rio Santo Antônio ao acesso ao Poço do Marimbondo) - 6,3km

Altitudes:
Rio Santo Antônio - 976m
cume da serra - 1684m
acesso ao Poço do Marimbondo - 1483m

Carta topográfica de Agulhas Negras: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/mapas/GEBIS%20-%20RJ/SF-23-Z-A-I-4.jpg

Rafael Santiago
http://trekkingnamontanha.blogspot.com.br
abril/2014
Zoom in (real dimensions: 1126 x 721)
Percurso da travessia na carta topográfica

Percurso da travessia na imagem do Google Earth

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Travessia Penedo-Serrinha do Alambari (RJ) - abr/14

ImagemVale do Rio Alambari, já na chegada à Serrinha

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/TravessiaPenedoSerrinhaDoAlambariRJAbr14.

Em um dia fizemos a travessia de Penedo à Serrinha do Alambari e retornamos. A volta foi por um caminho um pouco diferente da ida, um pouco mais longo, mas com a recompensa de uma bela cachoeira.

PENEDO-SERRINHA

Chegando a Penedo, atravessamos todo o centro, continuamos pela rua principal e deixamos o carro estacionado em frente ao Mercado Dois Irmãos (rodamos 3,8km desde o portal). Caminhamos 100m mais à frente e às 10h55 entramos na primeira rua à direita, a Estrada do Córrego Frio, com placa indicando o Hotel Campestre. Altitude de 431m. Imediatamente atravessamos a ponte sobre o Ribeirão das Pedras (segundo a carta) e passamos pelo hotel à esquerda. Seguimos por essa estradinha de terra subindo suavemente e fomos à direita na bifurcação que surgiu. A estrada termina, logo após uma pequena ponte, num portão de madeira maciça que está sendo instalado na entrada de uma casa em construção logo acima. A trilha começa à esquerda da casa. Se o proprietário resolver fechar completamente esse acesso, a travessia para a Serrinha do Alambari estará comprometida, a não ser que abram uma outra picada para atingir a trilha principal, coisa que investigamos e não encontramos.

À esquerda então da casa em construção começa a trilha em forma de estradinha estreita e bastante escorregadia por causa do limo verde sobre o chão de barro. Uns 200m acima da casa uma trilha à esquerda com corrimão de madeira meio podre nos chama a atenção e entramos. Ela leva a uma cachoeira com uma pequena ponte de madeira bastante carcomida e suspeita. Só o Ronald arriscou andar sobre ela e se aproximar um pouco da queda. Uma grossa tubulação acompanha o riacho, indicando a captação de água para a vila em algum ponto mais acima. Voltando à trilha/estrada principal subimos poucos metros e outra trilha à esquerda nos levou ao alto da cachoeira, onde pudemos ver que o sistema de captação de água não está ativo. Por essa trilha continuei ainda alguns metros mas o mato foi se fechando e ela apenas acompanhava o riozinho.

Imagem
A bela cachoeira encontrada na volta

Voltamos à principal e continuamos subindo. A trilha nivela e depois desce a um ribeirão com uma cachoeira de difícil acesso à esquerda. Cruzamos pelas pedras pois a antiga ponte se espedaçou toda. A partir dali o caminho começa a se estreitar e parecer mais uma trilha mesmo. Uma curta subida e o terreno estabiliza às 11h50 no ponto onde há um acesso à direita a uma bela cachoeira com poço e lajes formando um dique natural. Nesse local a trilha principal até se alarga um pouco novamente mas logo se estreita definitivamente. Continuando, cruzamos dois riachos e junto ao segundo encontramos um rancho à esquerda. Lírios-do-brejo e capim alto escondem um pouco a trilha nessa parte, mas ela está bem marcada no chão. Cerca de 100m depois do primeiro ranchinho surge um segundo, junto a velhos pés de jaboticaba (ou alguma espécie da mesma família), porém esse totalmente destruído, com as toscas paredes de pau-a-pique se esfacelando.

A partir dali a picada toma feições de trilha da Serra do Mar, com vegetação alta e exuberante, muitas nascentes e uma quantidade incrível de pés de palmito. Numa bifurcação às 12h25 tomamos a direita para explorar e avistamos uma cachoeirinha mais abaixo, mas a trilha termina no riacho acima dela. Voltamos à principal e continuamos subindo.

Às 12h40 alcançamos uma bifurcação importante. Numa clareira com pés de jaboticaba a trilha continua em frente mas há uma outra que sai à direita e desce ao córrego. Nesse ponto (e já há algum tempo) havia uma sinalização nas árvores feita com fitas rosa. Optamos por descer à direita, cruzar o riacho e seguir as fitas. Subimos por 12 minutos e atingimos às 12h52 o fim da mata e o início de um pasto que recobre uma grande extensão da face norte da encosta. Caminhando poucos metros à frente já tínhamos visão da estrada principal da Serrinha e as casas e sítios que antecedem a praça principal do vilarejo. Aqui a altitude máxima da travessia: 810m. Antes de descer, caminhamos um pouco à direita para tentar um visual do Vale do Paraíba e conseguimos avistar parte da cidade de Resende.

Descemos o pasto por uma trilha inicialmente larga que se estreitou depois, mas não houve dúvida quando visualizamos a casa do sr Celestino mais abaixo. Descemos em ziguezague e alcançamos a casa, que contornamos pela esquerda, com os cachorros denunciando a nossa passagem. Contornada a casa, caímos numa trilha, cruzamos o Rio Alambari por um tronco-ponte e às 13h40 chegamos à estrada principal da Serrinha, bem ao lado da ONG Crescente Fértil (http://www.crescentefertil.org.br).

Imagem
Resende vista da parte mais alta da travessia

SERRINHA-PENEDO

Para o retorno a Penedo, procuramos a trilha que supostamente sai da Pedra Sonora ou da Fazenda do Sr. Nicola, segundo informações vagas que tínhamos.

A partir da Crescente Fértil caminhamos 1,1km à direita até a rua que dá acesso à Pedra Sonora e depois 250m até a pedra. Ali fizemos um lanche e experimentamos as sonoridades produzidas pela curiosa pedra. A indicação que tivemos do sítio do sr Nicola não nos pareceu interessante pois nos afastava cada vez mais do pasto pelo qual descemos, e sabíamos que esse acesso deveria se juntar em algum ponto à trilha por onde viemos. Resolvemos voltar alguns metros antes da Pedra Sonora e pegar um acesso calçado com pedras paralelas à esquerda. Entramos numa chácara e conversamos com o rapaz que veio nos receber. Pedimos permissão e ele nos deixou passar e alcançar o pasto que termina bem atrás da propriedade, às 14h28.

Subimos o pasto na direção oeste e depois sudoeste avistando abaixo a casa do sr Celestino e acima o local por onde saímos da mata vindo de Penedo. Nesse ponto o Myung começou a sentir cãibras e resolveu voltar e nos esperar na Serrinha. Eu e o Ronald alcançamos a trilha que adentra a mata às 15h22, porém à direita dela um outro caminho bastante aberto nos chamou a uma nova exploração. Essa outra trilha está bastante pisoteada pelo gado e também bastante enlameada. Com 10 minutos de descida suave, pegamos a esquerda numa bifurcação, passamos sob um pé de mexerica carregado (porém todas verdes) e descemos forte com barulho de água à direita. Era uma alta e bela cachoeira, a mais bonita de todas, com um pequeno poço. Após algumas fotos, continuamos pela trilha plana e bem marcada que acompanharia o riacho e o cruzaria algumas vezes. Nesse trajeto foi colocado um barbante como orientação para uma corrida de montanha, provavelmente já realizada.

Às 15h55 alcançamos a clareira das jaboticabeiras onde desviamos à direita na ida. Esse caminho mostrou-se mais longo que o das fitas rosa (cerca de 550m) porém a cachoeira é o prêmio para alguns minutos a mais de caminhada. Dali em diante o caminho de retorno foi exatamente o mesmo e, sem voltar a nenhuma das cachoeiras, terminamos a trilha no portão da casa em construção às 16h45. Depois mais 15 minutos de estradinha de terra até o local onde deixamos o carro.

Informações adicionais:

Extensão da trilha na ida (da casa em construção à estrada principal da Serrinha) - 3,9km
Extensão da trilha na volta (da Pedra Sonora à casa em construção) - 5,1km

Carta topográfica de Agulhas Negras: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/mapas/GEBIS%20-%20RJ/SF-23-Z-A-I-4.jpg.

Rafael Santiago
abril/2014

Percurso da ida na imagem do Google Earth


Percurso da ida na carta topográfica


Zoom in (real dimensions: 1024 x 678)
Percurso da volta na imagem do Google Earth


Percurso da volta na carta topográfica