terça-feira, 24 de julho de 2012

Travessia Cachoeira da Capivara-Lapinha (Serra do Cipó-MG) - jun/12

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Cachoeira da Capivara

As fotos estão em https://picasaweb.google.com/116531899108747189520/TravessiaCachoeiraDaCapivaraLapinhaSerraDoCipoMGJun12.

Mal terminei a travessia Travessão-Lagoa Dourada (relato em http://lrafael.multiply.com/journal/item/14/14) e já parti para outra longa caminhada na Serra do Cipó, desta vez numa tentativa de ligar o parque nacional, mais precisamente sua porção norte, local conhecido como Alto do Palácio, à região da Lapinha, outro vasto campo de exploração para trilheiros ávidos por novidades. Uma noite apenas em Cardeal Mota foi o tempo que tive para descansar e reabastecer a mochila para mais dois dias de caminhada (há dois mercados e duas padarias com mercearia).

A Lapinha ou Lapinha da Serra, como também é conhecida (para diferenciá-la da Lapinha de Lagoa Santa, onde está a famosa gruta e sítio arqueológico), é um distrito do município de Santana do Riacho, assim como Cardeal Mota.

1º DIA: DA CACHOEIRA DA CAPIVARA AO VAU DA LAGOA

Depois de obter muitas informações desencontradas sobre horários de ônibus e ficar plantado à sua espera por 1h30, finalmente subi a serra no bus da viação Serro que passou no centrinho de Cardeal Mota (km 97 da MG-010) às 10h25. Desci junto à estátua do Juquinha, no km 122, às 11h. A pernada começaria oficialmente na porteira da Cachoeira da Capivara, 1km acima, mas quis revisitar e fotografar a escultura que homenageia o apanhador de flores mais famoso da Serra do Cipó. Feito isso, subi pelo asfalto até a porteira e passei pela cerca à esquerda dela às 11h45, tomando a direção oeste inicialmente. Depois de 500m na estradinha, um grande cercado delimitando uma área em recuperação (com placa do DER) confunde um pouco quanto à direção a seguir, mas é só acompanhá-la à direita que logo se chega à trilha tremendamente erodida que desce para a cachoeira, talvez o motivo da interdição dela. Logo começo a avistar a enorme queda, bem como as casas da sede da fazenda distantes à direita. Às 12h45 já tenho a bela cachoeira enquadrada em minha câmera. Por incrível que pareça, após tantas idas ao Cipó, essa é a primeira vez que visito a Capivara, e fico impressionado com tamanha beleza. E aquilo era só metade do espetáculo pois uma trilha íngreme leva à queda inferior com seu grande poço igualmente negro.

Satisfeito o desejo de conhecer a Cachoeira da Capivara, dou continuidade às 13h53 à minha travessia tomando a trilha bem marcada que aponta diretamente para oeste a partir do poço inferior. Ultrapasso alguns riachos, um tronco que serve de ponte (felizmente com um tronco-corrimão), uma cerca, até que caio numa estrada de terra que já avistava havia algum tempo, na qual toquei para a direita (norte) ingenuamente pensando tratar-se de uma estrada "pública".

Às 15h tropeço numa ponte de madeira com laterais de ferro sobre o Ribeirão Capivara e ao ultrapassá-la sou abordado por um homem num carro que me informou que ali era propriedade da Cedro Têxtil. Contudo, ao explicar-lhe que meu objetivo era chegar à Lapinha, não fez nenhuma objeção, só não sabia me informar o caminho até lá. Após a ponte a estradinha subiu e me proporcionou do alto a visão do meu objetivo, a Serra do Breu, com os picos da Lapinha e do Breu nas extremidades do conjunto montanhoso.

Na descida deparo às 15h30 com uma bifurcação e uma placa: casa dos acionistas à direita e casa da turbina à esquerda. Explico: é que ali funcionava uma usina que produzia energia para a fábrica de tecidos Cedro Têxtil em Caetanópolis-MG a partir do represamento do Rio Parauninha. Tentei primeiro à direita mas a direção me pareceu errada (mas encontrei uma bica para abastecer o cantil). Tentei sair da estrada e tomar uma trilha na direção oeste mas ela terminou no rio, largo demais. Só me restou tomar a esquerda na bifurcação da placa e perguntar na casa abaixo, que devia ser a tal casa da turbina, torcendo para não ser impedido de continuar por algum segurança mal-humorado. Mas para minha surpresa, o que encontrei foi um grupo grande reunido ali comendo, bebendo e se divertindo em plena quinta-feira à tarde. A surpresa maior deve ter sido deles ao verem um sujeito sozinho aparecer do nada com um mochilão nas costas e dizendo que queria ir para a Lapinha, ainda muito distante dali. Fui muito bem recebido pelo grupo, que me ofereceu sanduíches, frutas, refrigerante e até me apontou a continuação do caminho. Conversamos algum tempo, tiramos fotos e dei prosseguimento à pernada às 16h45 pelo caminho da casa dos acionistas, o qual passou pelas casas dos funcionários da empresa e cruzou o Parauninha por uma ponte molhada, ou seja, que pode ficar submersa em caso de chuva forte. No caminho uma barragem desativada e muita erosão foi o que restou da Central de Geração Hidrelétrica Vau da Lagoa, hoje desativada. Continuei subindo pela estrada mas às 17h33 deixei-a em favor de uma trilha à esquerda que foi providencial pois ao longo dela é que encontrei um local plano e sem pedras para armar a barraca quando já escurecia.

Nesse dia caminhei 15,1km.

2º DIA: DO VAU DA LAGOA À LAPINHA, COM CACHOEIRA DO LAJEADO

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Serra do Breu

Iniciei a caminhada às 8h continuando pela trilha, mas ela logo me levou à estrada de terra novamente, onde segui para a esquerda (oeste). Subi pouco mais de 1km e topei com uma porteira que parece ser o limite das terras da Cedro pois a partir dali a placa indicava ser área de preservação ambiental. Essa subida me proporcionou visão de estradas de terra que apontavam para o norte, meu destino, porém pretendia chegar lá por alguma trilha que desejava encontrar mais a oeste, em terreno mais alto. Assim, da porteira fui acompanhando a cerca para o norte e depois descendo a noroeste até alcançar um colchete que cruzei para tentar me manter na direção oeste. A trilha estava mais marcada a partir dele e, após bordejar um morro pela esquerda e ultrapassar um portão azul no meio do nada, ela toma definitivamente a direção que eu procurava: norte. Um ponto de água às 10h abastece meus cantis já vazios.

Subo por essa trilha sem erro tendo como visão à direita (sudeste) todo o percurso feito desde ontem à tarde pela estrada. Mas às 10h30 atinjo o alto e à minha frente surge magnífica no horizonte a Serra do Breu e toda a campina que devo atravessar para chegar até ela. Foi uma visão empolgante pois, além da beleza, confirmou que essa travessia praticamente desconhecida tinha tudo para dar certo.

Às 11h30 chego a uma extensa cerca paralela a uma estrada precária. Podia ter acompanhado a cerca para o norte sem cruzá-la já que não havia colchete para facilitar a passagem, mas preferi passar por baixo para me aproximar de uma casa junto a um arvoredo. Porém ela estava abandonada e até começando a ruir. Cerca de 100m depois da casa deixo a estrada que ruma direto para o norte e tomo uma trilha que se encaminha para noroeste (esquerda). Cerca de 1,5km depois a trilha se perde no capim baixo e caio para a esquerda para cruzar a mata ciliar à frente num ponto mais favorável. Acabo atravessando-a às 12h50 próximo a uma solitária e erma casa cor-de-terra (avermelhada), justamente onde o riachinho desaba em duas singelas quedas paralelas.

Depois da casa continuo pela trilha e permaneço na direção noroeste. Às 13h25 cruzo um ribeirão mais largo pelas pedras, cenário muito bonito com os picos da Serra do Breu ao fundo, e 20 minutos depois atinjo a borda da serra, com espetacular visão do vale do Córrego Mata-Capim desde o fundo (para os lados da Cachoeira do Lajeado) até a Lagoa da Lapinha ao norte. A descida dessa serra exigiu atenção pela quantidade de pedras soltas e muita erosão.

Uma vez no vale do Mata-Capim às 14h15 vários caminhos se dirigem para o fundo, à esquerda, e sigo o primeiro que encontro. Cruzo uma porteira azul, uma casa de pau-a-pique isolada mas com atentos vira-latas como vigias, um colchete e um ribeirão de pedras brancas para as 15h chegar à Cachoeira do Lajeado. Porém ela estava com bem pouca água e causou uma certa decepção. O que vi foi uma parede alta e escura recoberta de muita vegetação com algumas quedinhas isoladas. Explorei algumas trilhas por ali que tinham continuidade e podem significar futuras travessias na direção de Cardeal Mota. Às 16h atravessei o ribeirão de pedras brancas de volta mas não quis apanhar da sua água devido à grande quantidade de lodo. Depois da porteira azul seguiram-se diversas outras porteiras e alguns riachos (parei no primeiro deles para apanhar água e comer algo), a trilha se alargou e começou a contornar à esquerda a extremidade norte da Represa Coronel Américo Teixeira/Lagoa da Lapinha. Restou atravessar a ponte de concreto sobre o Córrego Lapinha, que deságua na represa, e tomar a rua em forma de túnel arborizado para chegar às 17h50 ao centrinho do vilarejo, com uma igreja nova e outra mais antiga no meio de um gramado.

Assim foi completada com sucesso e colocada uma nova opção de travessia entre esses dois polos da Serra do Cipó, Alto do Palácio e Lapinha, que, como disse, atraem aventureiros de toda parte dispostos a desvendar suas infinitas possibilidades de caminhos, sendo sempre presenteados com largas e lindas paisagens, bem como tranquilos e secretos recantos.

Nesse dia caminhei 25,3km.
Distância total percorrida: 40,4km

Informações adicionais:

Carta topográfica de Baldim (http://biblioteca.ibge.gov.br/visualiza ... -C-III.jpg).

Rafael Santiago
junho/2012

2 comentários:

  1. Fala Rafael,
    Vc é um cara sortudo, adentrar hoje por essas bandas da Capivara é arriscado demais devido à citada vigilância! Tem cada história... E é uma pena, porque a Capivara é uma beleza. Eu só a conheço por fotos hahahaha. E poucos fazem a Travessia Palácio-Lapinha, eu mesmo nunca a fiz! Abração

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  2. Chico, preciso saber dessas histórias! Tenho planos de retornar ao Cipó no ano que vem, se tudo der certo.
    A Capivara é belíssima! Eu demorei muitos anos para conhecê-la (só uns 20 anos). Duas vezes segui indicações e croquis e não a encontrei. Depois que a descobri fiquei até com vergonha de tão fácil que é chegar a ela.
    Abraço!

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