sábado, 21 de janeiro de 2012

Arraial do Sana (RJ) - out/11

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Pedra do Peito de Pombo

As fotos estão em http://lrafael.multiply.com/photos/albu ... RJ_-_out11.
O tracklog está em http://pt.wikiloc.com/wikiloc/view.do?id=4529883.

O Sana é um distrito de Macaé (RJ) porém fica na serra, enquanto a cidade de Macaé fica no litoral. O distrito se compõe de várias localidades como o Portal do Sana, Barra do Sana, Arraial do Sana, Cabeceira do Sana e outras menores. Para os amantes da natureza e das montanhas o local mais interessante é o Arraial do Sana, onde fica a famosa pedra do Peito de Pombo e algumas belas cachoeiras.

Todo o distrito é atravessado pelo Rio Sana, que deu nome às localidades onde ele nasce (Cabeceira) e onde deságua no Rio Macaé (Barra).

Para quem vai sem carro, é preciso pegar uma kombi que sai de hora em hora de Casimiro de Abreu, cidade a 130km do Rio de Janeiro. Elas não saem da rodoviária de Casimiro, mas de um ponto em frente, do outro lado da BR-101 (que é fácil de atravessar). A passagem custa R$5 e é o único meio de transporte público até o Sana.

12/10/2011 - QUA

Eu vinha de Lumiar, que fica mais no alto da serra e na mesma estrada que vai de Mury (ambos distritos de Nova Friburgo) a Casimiro de Abreu, passando pelo trevo do Sana. Essa é a RJ-142 ou Estrada Serramar e hoje está toda asfaltada (quando era de terra tinha péssimas condições). Peguei em Lumiar um microonibus da empresa 1001 por volta de 16h e desci no trevo do Sana para esperar a próxima kombi, que demorou bastante e me deixou apreensivo, na dúvida se ainda estava rodando naquele horário. Dali até o arraial seriam 6,5km de estrada de terra que eu não estava a fim de fazer a pé.

(Em tempo: o motorista da 1001 me cobrou a tarifa de Lumiar até Casimiro de Abreu, R$8, e nem sabia onde ficava o trevo do Sana.)

A kombi apareceu lotada de bichos-grilos, quase não consigo entrar. A viagem se tornou ainda mais demorada por causa do aperto lá dentro. E ao chegar ao arraial constatei que a vocação do lugar é essa mesmo, destino de alternativos e ripongas de todas as idades, coisa que Lumiar deve ter sido há décadas atrás. Apesar de eu não estar sintonizado com essas tribos, gostei muito do clima do lugar, principalmente pela proximidade com a natureza e o acesso fácil às montanhas e trilhas. E também pelas pessoas que conheci, moradores antigos de lá.

Mas, alertado pelos relatos e comentários aqui do Mochileiros, procurei um camping mais tranquilo e sem muito aroma de marijuana no ar. Por indicação do motorista da kombi, fui parar no Sana Camping, que tinha duas ou três barracas montadas apenas. Ali há também alguns poucos chalés e alguns trailers fixos para pernoitar, uma opção que eu desconhecia. Preço de R$15 para acampar, com banho quente e cozinha desponível. Pode-se acampar bem próximo ao Rio Sana e dormir ouvindo seu som relaxante.

Nessa noite fui jantar no Restaurante Beija-flor seguindo várias indicações. A comida é ótima, farta, saborosa e pelo preço camarada de R$8. Sem contar a simpatia da dona.

Caminhei um pouco pelas poucas ruas do local para fazer a digestão mas não me demorei pois o dia seguinte seria puxado.

13/10/2011 - QUI

Acordei bem cedo e saí do camping às 5h30 para subir o Peito de Pombo, conhecer as cachoeiras do caminho e talvez voltar para Lumiar à tarde.

Nesse horário felizmente não encontrei os monitores que ficam de plantão na trilha, um pouco antes das cachoeiras, e não tive de justificar a minha ida solo ao pico ou inventar mentiras.

Já tinha lido vários relatos sobre o trajeto de mais de 3 horas até o Peito de Pombo e alguns chegam a dizer que é um caminho complicado, ficam contando o número de porteiras do caminho, etc. Eu discordo disso e achei o caminho muito fácil, embora cansativo. Só é preciso ficar atento em dois pontos da trilha para não errar. O resto é só seguir a trilha principal que não tem susto.

Então vamos à descrição detalhada da trilha:

Seguindo pela rua principal do vilarejo, após passar a praça principal com a Igreja de São Sebastião e depois uma ponte, deve-se entrar à esquerda, que já é a rua das cachoeiras. Depois de 470m há uma bifurcação em frente a um estacionamento e a rua continua para a direita, mas deve-se pegar o caminho largo da esquerda e logo cruzar uma outra ponte. Daí em diante é uma caminhada de mais de uma hora sem erro, sempre pela trilha mais larga.

Primeiro passei pelos quiosques dos monitores, ainda desertos, e depois começam as surgir os portões de acesso à esquerda ao Rio Peito de Pombo e suas belas cachoeiras, mas isso deixei para a volta. A sequência de portões (que ainda estavam fechados) é: Cachoeira do Escorrega; Poço das Borboletas e Poço da Gruta; Cachoeiras Sete Quedas, Pai e Mãe.

Me mantive sempre na trilha principal, onde algumas janelas na mata me deram a primeira visão do Peito de Pombo, ainda bem longe, e às 7h10 cheguei ao cruzamento inevitável do Rio Peito de Pombo. Não é preciso se preocupar com as casas, placas e porteiras do caminho pois a trilha principal cruza o rio inevitavelmente, mas, para quem quiser saber, cruzei quatro porteiras (sem contar, é claro, as porteiras que surgem ao lado da trilha). Atravessei o rio pulando as pedras e me deparei com uma porteira caída e uma placa com os dizeres "Para sua segurança, o acesso à pedra é autorizado somente com a companhia de um condutor local". Segundo os relatos, esperava encontrar aí uma ponte e uma placa lacônica com as letras "P de P", mas não vi nada disso. O cruzamento do rio é o primeiro ponto de atenção pois a trilha ali se divide em três. A trilha da direita continua acompanhando o rio, agora pela sua margem direita (e deve ser motivo de futuras explorações na intenção de descobrir quem sabe uma nova travessia). A trilha em frente, bem na direção da placa, leva a uma casa. E há ainda um terceiro caminho, à esquerda da placa e da porteira caída, que sobe o morro íngreme de pasto por trilhas de vaca que se dividem e reencontram. Esse terceiro é o caminho certo para o Peito de Pombo.

Vencidos cerca de 250m de trilha e 90m de desnível, outro ponto de atenção, já que é uma bifurcação não tão óbvia: ainda no meio da encosta de pasto, uma pequena clareira sem capim tem duas trilhas, sendo que a mais natural parece ser a da esquerda. Porém essa trilha bordeja o morro e começa a voltar em vez de subir. O certo é pegar a trilha da direita na clareira, que sobe e se dirige a grupos de bambus lá no alto. Depois disso não tem mais erro, sempre seguindo a trilha mais aberta.

Depois dos bambus a trilha continua pelo pasto e tem um trecho muito erodido. No alto do pasto já é possível vislumbrar melhor o pico e a mata em sua encosta que deverá ser percorrida. Ali tive de atravessar uma cerca de arame farpado por baixo.

A trilha desce um pouco e entra na mata, com um ponto de água logo em seguida. Depois de uma grande laje de pedra, a subida se torna bastante íngreme e escorregadia.

Um pouco antes do topo algumas cordas fixas dão auxílio. Como não são imprescindíveis para a subida, evitei jogar todo o peso do corpo nelas. São três cordas curtas até o platô que serve de mirante para fotos do Peito de Pombo. E mais uma corda que facilita o acesso à própria pedra. Mas é preciso cuidado sempre com cordas fixas pois podem estar corroídas ou podres. Além disso, ali no alto, principalmente no mirante, é preciso muita atenção onde se pisa pois a trilha é bem estreita e os penhascos estão em todos os lados. A empolgação com a visão do Peito de Pombo tão perto pode causar distração e um acidente sério.

O desnível desde a travessia do Rio Peito de Pombo (que fica a 629m de altitude) foi de 546m. O Peito de Pombo está a 1175m (no meu gps) e o mirante alguns metros acima. Cheguei ali às 8h45, totalizando 3h15min de caminhada desde o camping. O desnível total, desde a Igreja de São Sebastão (336m de altitude), foi de 839m.

A visão de 360º é espetacular, um mar de montanhas com alguns vilarejos espalhados pelo vale. É possível ver apenas parte do Arraial do Sana. Me deliciei com a beleza da paisagem por quase duas horas.

Na volta encontrei dois caras subindo, já dentro da mata. Além deles, conversei com um morador de um dos sítios do caminho que me deu informações sobre as trilhas por ali.

Saí do pico às 10h40, cruzei o rio às 12h10 e cheguei ao portão de acesso às cachoeiras Sete Quedas, Pai e Mãe às 13h10. Logo me deparei com o rio e não quis tirar as botas para atravessá-lo. Voltei à trilha principal, desci mais 560m e entrei no portão dos poços das Borboletas e da Gruta. Esse poços não estão identificados entre tantos e não soube ao certo quais são. Mas descobri uma trilha do outro lado do rio e o atravessei facilmente pelas pedras. A trilha subiu e desceu diretamente na Cachoeira Mãe, para minha sorte. Um pouco acima, a Cachoeira Pai e a Sete Quedas (me levando de volta ao ponto onde não quis tirar as botas para atravessar). As cachoeiras Mãe e Pai são altas e perigosas, mais indicadas para contemplação. Pelo menos por parte dos visitantes, pois o povo local tem tanta intimidade com elas que se atira de uma altura enorme em mergulhos precisos e arrepiantes.

Voltei à trilha principal atravessando o rio no mesmo local e desci mais 480m para entrar no portão da Cachoeira do Escorrega, formada por uma laje inclinada que termina num poção. Há pequenas trilhas por ali para explorar os poços mais próximos.

A visita às cachoeiras me prendeu mais tempo do que eu previa e acabei saindo do Escorrega às 15h50, o que me fez desistir do retorno a Lumiar naquele dia por não saber dos horários do ônibus de Casimiro de Abreu para lá. Mas a simpatia do lugar também contou nessa decisão. Passar mais uma noite ali seria bastante prazeroso.

No retorno ao arraial tomei o meu infalível açaí na tigela (R$3) vendo o movimento da rua principal. Mais tarde jantei novamente no Beija-flor (R$8).

Informações adicionais:

. Os horários da kombi Casimiro de Abreu-Sana estão nesta foto. A passagem custa R$5.

. O site da empresa 1001 é www.autoviacao1001.com.br.

. Carta topográfica de Casimiro de Abreu: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/mapas/GEBIS%20-%20RJ/SF-23-Z-B-III-4.jpg.

Rafael Santiago
outubro/2011

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